O pensamento europeu da época [século XVI] alimentava-se na Bíblia, na doutrina da Igreja e na Antiguidade greco-romana. Nos Antigo e Novo Testamentos, a escravidão aparece como um fato natural: não é justificada nem condenada. Doutores da Igreja, e dos mais ilustres, procuram explicar e justificar a escravidão. Santo Agostinho tinha-a como conseqüência do pecado.
Excluídos alguns sofistas, cínicos e estóicos, os autores gregos e latinos não fizeram maiores reparos à escravatura nem a ela se opuseram como instituição. E até alguns dos mais críticos, como Sêneca, possuíram escravos.
Por tudo isso, quando nos situamos intelectualmente no século XVI, não devemos nos surpreender com a postura de Lutero, ao considerar que o reino deste mundo não se sustentaria sem homens livres e escravos, nem estranhar que Thomas Morus mantivesse a escravidão como necessária à sua Utopia, nem que Erasmo silenciasse sobre o assunto, nem ainda que, já nos Seiscentos (século XVII), Descartes, Pascal e Spinoza não emitissem uma só palavra contra ela. John Locke qualificou-se de vil miserável, mas não só a teve por útil à ordem social, como também foi acionista da Royal African Company, que se dedicava ao comércio de negros.
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