segunda-feira, novembro 21, 2011

Movimentos sociais, movimento estudantil e prática militante

E, se as formas de organização criadas para isto estão funcionado de maneira insatisfatória, o problema está em ativá-las ou em mudá-las, conferindo-lhes a eficácia que deveriam ter." Leandro Konder



Não creio que vivemos numa "falência", mas sim vivemos numa crise organizacional onde as demandas impostas pela contradição e dinâmica capitalista e a própria reestruturação produtiva e acumulação flexível mudou o cenário da organização social, principalmente a sindical e isso impactou nos movimentos sociais, culminando no que hoje algumas teses defendem como crise organizacional dos movimentos sociais, ou seja, um problema de conjuntura e co-relação de forças que não está nada favorável a classe trabalhadora. 

Primeiro, o que é movimento social? o movimento social é expressão das relações sociais objetivas e subjetivas, determinadas pelas relações entre estrutura e superestrutura no movimento real da totalidade concreta de um determinado período histórico e suas manifestações são estruturais e conjunturais.

A culpa não é do "vilão" capitalismo, mas sim de todas as suas expressões, contradições, complexos dos complexos, já disse Luckás. Não sei que "maquiavelismo" ou "teoria do caos" ou sei lá o que é esse bla bla bla de tática de movimentos sociais, Argumento sem nenhum embasamento, se trata apenas de um julgamento moral a meu ver.

Infelizmente, camaradas, as contradições se dão nos aspectos micro, e macros da dinâmica sociais, e DA's, movimento estudantil são profundamente afetados pelo descenso e refluxo da luta de classes, e infelizmente alguns companheiros só criticam e não movem se quer uma palha para mudar algo. Isso sim é triste.

Obviamente devemos caminhar para uma dita "perfeição" na nossa prática militante, mas com a realidade adversa que vivemos, não é fácil. A construção de valores no movimento estudantil, valores humanos, emancipatórios e autonomos são bastantes complicados, pelo próprio perfil que é a academia e seu distanciamento da classe trabalhadora, então não somos uma bolha da perfeição que não é atingindo pela complexidade que é a dinâmica social, e não podemos reduzir isso a um discurso idealista e romântico.

Obviamente o conceito de representatividade é pequeno-burgues, por que a "representação" exclui, direta ou indireta, a participação de outro ser na política. Mas não podemos utilizar a culpabilização de sujeitos na análise, pois assim chegamos até a um retrocesso de análise, eram os positivistas que faziam isso, não? A participação e a militância no movimento estudantil tem importância fundamental para a formação político-ideológica.


Participar do movimento estudantil implica assumir uma certa autonomia, a tomar posição crítica com relação à instituição escolar e seus muitos mecanismos. A primeira fronteira se rompe, portanto, é a da própria sala de aula [...]. E as fronteiras físicas da universidade em que estudamos também se rompem [...]. E as fronteiras que se acabam por romper são também ideológicas – rompem-se cerca de muitos preconceitos pequeno-burgueses – aprende-se assim, já em princípio, que as saídas individuais não são saídas, mas adequações e que elas, em definitivo, não resolvem nem os problemas individuais mais imediatos, dirá os problemas históricos e sociais mais graves. Por isso, rompe-se a fronteira do imediato (ARAÚJO e SOUSA NETO, 2007, p. 258)


Camaradas, de certo a eleição de uma chapa ou outra para DA não é a tão democracia e emancipação política que queremos, que está no nosso HORIZONTE UTÓPICO. devemos COLETIVAMENTE buscar alternativas de abrir a gestão dos DA e CA's, é uma tarefa fácil? Não, não o é. Mas ai vamos juntas e juntos buscar as soluções para os nossos "problemas."

A realidade do curso de Serviço Social da UFPE é uma realidade para muitas universidades públicas, infelizmente a mudança socio-econômica não anda na mesma velocidade da mudança juridica-politica. Mas devemos entender as universidades, instituições, governos, estados e afins como detentoras de relações AMPLIADAS, complexas, e contraditórias, Mais uma vez aqui o dito complexos dos complexos, unidade dos contrários. Isso só uma negação da negação para "resolver". (ignorem o etapismo)


A tal UNE, (UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES), entidade histórica e legitima criada a partir da necessidade de organizar as lutas estudantis infelizmente vive um MOMENTO DE CONJUNTURA E CO-RELAÇÃO DE FORÇAS QUE NÃO É AO "NOSSO" FAVOR. Como assim o foi em outros momentos históricos e que a partir da disputa e luta conseguimos reaver, mas que depois também foi tomada por um grupo que hoje vai numa perspectiva ala direita. é um braço do governo? É, em sua maioria. devemos reconquista a UNE, disputá-la, no debate, na conversa, nas propostas, é bem dificil fazer isso tendo em vista os valores capitalistas e pequeno-burgueses empregados pela maioria, como dinheiro, sexo, comida e bebida, e algumas drogas... mas camarada, é uma tarefa para tod@s os estudantes. Pois criar outra entidade ou aboli-las de vez com certeza não solucionará todos os empasses, desafios e dilemas que enfrenta o movimento estudantil de esquerda na atualidade. Não nesse dado momento histórico.

Infelizmente é isso, eles CONSEGUEM DIALOGAR COM A POPULAÇÃO, coisa que a extrema esquerda ou seja lá o que for não consegue fazer. É um desafio que está posto camarada, cabe-nos fazer ALGUMA COISA.

Não se trata de legitimar ou não a entidade camaradas, vejo que o buraco é mais em "cima".  Mas é entender que o problema não é unica e exclusivamente da gestão. Não podemos cair nesse discurso de bom e mau, vilão e herói. A situação é mais complexa do que parece, até onde sei, na UFPE, os estudantes de Serviço Social deram e dão enormes contribuição para o ME, o MESS e a ENESSO, pelo menos uma parte que se dispões dias e dias da sua vida a construir uma categoria forte e um projeto ético político que vise a emancipação, a liberdade, a democracia. Eu sei que existem dois grupos disputando a gestão do DASS, um deles até exageram na critica a UNE, outros entendem a UNE em sua totalidade. 

Como você disse o problema não é de direção, é de conjuntura e co-relação de forças, mas a gestão pode fazer sim uma pequena diferença. Tendo em vista todo o histórico e legitimidade da UNE, Que queiramos ou não, tem respaldo nessa torcida organizada que é a UJS, nas escolas particulares e nos reunistas e prounistas. E eles são também trabalhadores, como eu, você e outros companheiros.

Infelizmente o movimento estudantil tem essas práticas de coleguismo, capismo, e afins, por ter suas particulares estruturais, por ser um movimento ciclico que pouco consegue dar continuidade e coesão. Por ser sim HETEROGENEO , CICLICO E POLICLASSISTAS. Mas são desafios que estão postos para toda a militancia. Cabe-nos combater essas práticas.

O problema é, na minha opinião, julgar alguém de pseudo-revolucionário ou não... cara, a prática nos dirá. Não podemos idealizar um tipo X de militancia. devemos caminhar para tal militancia, que dificilmente se dará sem um processo revolucionário.

O movimento estudantil deve ser autonomo, sim o deve. mas não podemos descartar que as bandeiras a ser defendidas pelo ME as vezes se entrelaçam com bandeiras de partidos, principalmente o MESS por sua maturidade política de sua luta associada a um projeto de sociedade... No mais peço que os compas que respondam tal acusação.

Eu construo o MPL, mas até que ponto existe auto-gestão? Vamos juntos buscar as respostas. Mas, cammarada, não se pode comparar o "incomparavel".

O papel de uma organização na história é interpretar os desafios que as circustancias apresentam e tentar resolvê-los, criando novas circustancias. Vivemos, infelizmente, num tempo de vazio de alternativas, de ideias e iniciativas, que leva cada vez mais a sociedade a bárbarie. No mais temos que nos concentrar nesse momento adverso num processo simples e complexo ao mesmo tempo, o processo de crítica e auto-crítica , de maneira fraterna e construtiva. Não nascemos militantes, nos fazemos militantes e poderemos deixar de ser no momento em que deixarmos de transformar a nós mesmos e a nossa volta (dentro de como podemos) no fazer cotidiano.

Precismaos combater a espontaneidade, elevar o nivel de consciencia da classe trabalhadora e ir além da "luta imediata". 

O indivíduo isolado, normalmente, não pode faze história: suas forças são muito limitadas. Por isso, o problemas da organização capaz de levá-lo a multiplicar suas energias e ganhar eficácia é um problema crucial para todo revolucionário. É preciso que a organização não se torne opaca para o indivíduo, que ele não se sinta perdido dentro dela; é preciso que ela não o reduza a uma situação de impotência contemplativa ou a um ativismo cego. Se não, o indivíduo fica impossibilitado de atuar revolucionariamente e se sente alienado na atividade coletiva.


Shellen Galdino, em resposta a um email meio anarco na lista da enesso regional. =) me inspirei ó 

HAHAHAHAHAHA

=)




email: PARA QUE VOTAR NAS ELEIÇÕES DO DASS?



Vemos hoje uma falência nas táticas de luta nos movimentos populares, seja no meio estudantil, sindical, etc. Mas será que essas não aglutinação, apatia, se deve apenas por causa do sistema capitalista que fomenta isso a todos instantes ? Será que isso também não é uma tática de vários movimentos que visam dirigir as massas e colocam aqueles que deviam lutar ombro a ombro como incapazes de fazer a politica que regerá suas vidas.
Mais triste é vemos tais processos se repetirem em em pequenos espaços onde deveriam ser o lugar onde se mostraria que é perfeitamente possível fazermos uma politica de outra forma da qual cotidianamente vemos, uma politica totalmente coerente com o que queremos, baseada nas mais fortes bases que podem haver, a solidariedade, o apoio mutuo, a democracia direta, a ação direta.
Espaços como um D.A deve servir para todos estudantes e não somente para um grupo eleito pela ditadura da maioria, isso não é democracia, democracia se faz diretamente, esse conceito de representatividade é um conceito burgues deturpado do que realmente significa democracia.

O pior é ainda nos encontramos em tal situação como vive o curso de Serviço Social da UFPE, ainda vivendo sob a legitimidade a uma entidade totalmente aparelhada, governista, que usa do aparato policial pra fazer o papel que o estado hoje a demanda-a. 
A tal UNE ( união neoliberal dos estudantes ) que vive sob o comando do mesmo grupo desde sua volta em 1979, ainda na ditadura, é hoje o maior braço dos parlamentares no governo, em nosso caso, municipal, estadual e federal, para implementação de suas politicas, pois se um dia ele foi de luta hoje luta contra os estudantes, onde podemos lembrar as maiores pautas que nos apareceram nos últimos anos como o REUNI e aumento de passagens em varias cidades. No primeiro caso a UNE se colocou junto a policia na desocupação da USP, para citar o maior caso, onde houve confrontos com outros estudantes alí ocupados e no caso da UFPE, fez passeatas contra a ocupação da reitoria e chamou os ocupantes de burgueses que não queria que abrissem vagas paras os pobres, escondendo totalmente o que verdadeiramente é o REUNI.
No segundo caso podemos citar o nosso aqui em Pernambuco, onde em 2005 os estudantes da UNE trabalharam junto a policia indicando aqueles que não agiam ordeiramente, “os baderneiros” , dando um simples OK e falando, esse pode levar, e vários estudantes detidos foram levados pra quarteis e pra matas do exercito, como a perto do shopping Tacaruna, e lá torturados.

Não sitamos aqui que os estudantes presentes na/s chapa/s legitimem diretamente tais atos, mas ao legitimar tal entidade legitima-se suas ações. Não devemos também cair mais uma vez no simples discurso que isso é um problema de direção, pois não o é, deixemos tal discurso para os que se colocam como “esquerda da UNE” , que na verdade tem nomes claros para quem ainda se coloca dentro de uma entidade que dizem ter divergências, oportunismo, peleguismo.




Tais grupos por muitas vezes se colocam como diferentes, que não é a mesma politica vista lá fora dos muros da universidade, ou de um simples centro, se aproveitando por serem pessoas que sempre a vemos nos nossos corredores, que é da mesma sala que nós, etc. Ou seja o discurso do coleguismo, o que faz que muitos votem em tais. O coleguismo é apenas uma trava para o pensamento critico do processo posto e assim ficamos apenas com nossos coleguinhas de curso e seus cartazes, assimilando no máximo seus dizeres, que por vezes são belos, que falam de liberdade, sociedade emancipada, autonomia, ora, isso não passa de palavreados pseudo revolucionários. Para isso avaliemos tais palavras,brevemente.
Como falar de autonomia um grupo que se coloca dentro da UNE, dentro de UM coletivo que também a legitima, o quebrando pedras e plantando flores, nome dado também a ultima gestão, onde vemos já pela sua carta de princípios demandas de um partido, será que foi coincidência ? o mesmo partido que participou das 2 semanas dos movimentos sociais feita por esse grupo, participou do coress, falamos aqui do PCB, será tudo coincidência ?
Autonomia implica diretamente em um não aparelhamento e será que isso não acontece ?
Como assim falarmos de uma sociedade emancipada, se nos mínimos espaços não rumamos para isso ? Uma outra politica que nos levará a outro mundo só será uma politica que seja totalmente coerente com os fins que dizemos tanto querer. Uma sociedade sem classes, só virá se agirmos ombro a ombro com todos que verdadeiramente a deseja, levando nossas lutas pelos caminhos da ação direta, da autogestão, da não burocratização de nossos espaços, isso é o que devemos pautar em todos os campos que vivemos.
Um D.A só será de todos estudantes de fato, se todos poderem dele participar como qualquer outro, isso implica em outra forma de luta, na não legitimação de espaços como o de uma eleição, que não passa de uma falsa legitimação para um grupo.
Não cairemos também no discurso de que o D.A é aberto, venha construir conosco, isso é um discurso que só pode fortalecer a situação, Querer que você trabalhe para outros levarem a fama.
Mais que tudo passamos por um problema Estrutural, não é apenas mudando o grupo na gestão do D.A ou apenas o nome que iremos nos movimentar para algo novo. 
Busquemos pelo novo, já temos pelo Brasil vários diretórios autogeridos onde a abertura já fez trazer vários estudantes para os quadros de uma luta mais legitima. Não vamos cair no discurso daqueles que temem a liberdade, que dizem que autogestão não funciona, olhemos o caso do do diretório de ciências sociais da UFPE, onde agora temos institucionalmente uma autogestão e vemos um grupo que vem puxando vários debates e ações como o caso do professor que assediou uma estudante, copa do mundo, apoio a USP, universidade democrática...
Olhemos para movimentos como o MPL, Movimento pelo passe-livre, movimento autogerido, federalizado, que age pela ação direta, mostrando que tais táticas caminham para o viés de algo mais justo que essa politica, e assim, vemos que isso é perfeitamente possível.

A politica só pode ser feita se for por nossas mãos. 
Ninguém estuda por você
Ninguém Faz politica por você.




O escravo moderno está convencido de que não existe alternativa na organização do mundo atual. Ele se resignou a esta vida porque pensa que não pode haver outra. E é ai mesmo que se encontra a força da dominação presente: entreter a ilusão desse sistema que colonizou toda a face da Terra é o fim da história. Convenceu a classe dominada que adaptar-se a sua ideologia é como adaptar-se ao mundo tal qual se mostra e como sempre foi. Sonhar com outro mundo se tornou um crime criticado unanimemente pelos meios de comunicação e os poderes públicos. O criminoso é na realidade aquele que contribui, consciente ou não, na demência da organização social dominante. Não existe loucura maior que a do sistema atual.

segunda-feira, novembro 14, 2011

O evangelho de Google


O evangelho de Google




Deus existe, chama-se Google, e alguns de nós consultam-no e fazem-lhe pedidos todos os dias.
A tese da divindade do santuário de busca mais freqüentado da terra, pregada ardentemente pelo tecno-profeta Matt MacPherson, ainda não foi, que eu saiba, refutada a contento.
Uma página apologética do sáite A Igreja de Google argumenta sensatamente que “existe mais evidência em favor da existência de Google do que de qualquer outro deus adorado nos nossos dias”.
Se você se preocupa com esse tipo de coisa, o Google encaixa-se confortavelmente dentro de alguns dos mais exigentes atributos que a teologia ortodoxa estabeleceu para Deus: ele é onisciente (sabe tudo que há para se saber – basta perguntar), onipresente (esta em e é acessível de todos os lugares, ainda mais com acesso wireless), imortal (suas informações e algoritmos estão distribuídos entre vários servidores, de modo que não há como se apagardefinitivamente uma porção do Google), registra todos os nossos erros e preferências e tem vocação para infinito.
Para o adorador casual, mais importante pode ser saber que o Google responde consistentemente as orações que se lhe fazem, e de forma mais rápida, organizada, relevante e abrangente do que qualquer deus competidor. As orações ao Google, que na tecno-ortodoxia chamam-se buscas, têm um potencial de resposta avassalador. Se você quer permanecer ignorante a respeito de determinada coisa, é melhor não consultar o oráculo do Google – o deus cego e generoso que tudo vê, tudo sabe e nada vai negar.
O REINO DE GOOGLE ESTÁ PRÓXIMO.

O Google pode ajudá-lo a organizar-se e manter-se informado, pode fornecer informações sobre como salvar uma vida ou tirá-la, pode oferecer uma cópia de segurança para os seus arquivos quando seu computador fritar, pode ajudá-lo a encontrar amigos há muito perdidos, a encontrar o caminho mais rápido e eficiente para determinado lugar ou a ver a Terra de cima.
Seu poder e sua sabedoria não páram de crescer, sua graça é abundante sobre justos e injustos, suas atualizações renovam-se a cada manhã.
O que me traz invariavelmente à lembrança o curtíssimo conto de ficção científica de Fredric Brown, “Answer”, de 1954. Num futuro distante autoridades estelares ligam pela primeira vez o interruptor que conecta os supercomputadores de noventa e seis bilhões de planetas “numa máquina cibernética que combina todo o conhecimento de todas as galáxias”.
– A honra de fazer a primeira pergunta é sua, Dwar Reyn.
Ele vira-se para olhar a máquina de frente.
– Deus existe?
A voz poderosa responde sem hesitação, sem o clique de um único relé.
– Agora existe.
Na história eles até tentam desligar o interruptor, mas é tarde demais. O reino de Google está próximo.
http://www.baciadasalmas.com/2006/o-evangelho-de-google/

domingo, novembro 06, 2011

Viver entre os 1%


11/2011 - 17h21 | Michael Moore | Nova York

Viver entre os 1%

 
 

Amigos,
 
Há 22 anos, que se completam nesta terça-feira, estava com um grupo de operários, estudantes e desempregados no centro da cidade onde nasci, Flint, Michigan, para anunciar que o estúdio Warner Bros, de Hollywood, comprara os direitos de distribuição do meu primeiro filme, “Roger & Me”. Um jornalista perguntou: “Por quanto vendeu?”
 
“Três milhões de dólares” – respondi com orgulho. Houve um grito de admiração, do pessoal dos sindicatos que me cercava. Nunca acontecera, nunca, que alguém da classe trabalhadora de Flint (ou de lugar algum) tivesse recebido tanto dinheiro, a menos que um dos nossos roubasse um banco ou, por sorte, ganhasse o grande prêmio da loteria de Michigan. 
 
Naquele dia ensolarado de novembro de 1989, foi como se eu tivesse ganho o grande prêmio da loteria – e o pessoal com quem eu vivia e lutava em Michigan ficou eufórico com o meu sucesso. Foi como se um de nós, finalmente, tivesse conseguido, tivesse chegado lá, como se a sorte finalmente nos tivesse sorrido. O dia acabou em festa. Quando se é trabalhador, de família de trabalhadores, todos cuidam de todos, e quando um se dá bem, ou outros vibram de orgulho – não só pelo que conseguiu ter sucesso, mas porque, de algum modo, um de nós venceu, derrotou o sistema brutal contra todos, sem mercê, que comanda um jogo cujas regras são distorcidas contra nós.
 
Nós conhecíamos as regras, e as regras diziam que nós, ratos das fábricas da cidade, nunca conseguíamos fazer cinema, ou aparecer em entrevistas na televisão ou conseguíamos fazer-nos ouvir em palanque nacional. A nossa parte deveria ser ficar de bico calado, cabeça baixa, e voltar ao trabalho. E, como que por milagre, um de nós escapara dali, estava a ser ouvido e visto por milhões de pessoas e estava ‘cheio de massa’ – santa mãe de deus, preparem-se! Um palanque e muito dinheiro... agora, sim, é que os de cima vão ver!
 
Naquele momento, eu sobrevivia com o subsídio de desemprego, 98 dólares por semana. Saúde pública. O meu carro morrera em abril: sete meses sem carro. Os amigos convidavam-me para jantar e sempre pagavam a conta antes que chegasse à mesa, para me poupar ao vexame de não poder dividi-la.
 
E então, de repente, lá estava eu montado em três milhões de dólares. O que eu faria do dinheiro? Muitos rapazes de terno e gravata apareceram com montes de sugestões, e logo vi que, quem não tivesse forte sentido de responsabilidade social, seria facilmente arrastado pela via do “eu-eu” e muito rapidamente esqueceria a via do “nós-nós”.
 
Em 1989, então, tomei decisões fáceis:
 
1. Primeiro de tudo, pagar todos os meus impostos. Disse ao sujeito que fez a declaração de rendimentos, que não declarasse nenhuma dedução além da hipoteca; e que pagasse todos os impostos federais, estaduais e municipais. Com muita honra, paguei quase um milhão de dólares pelo privilégio de ser norte-americano, cidadão deste grande país.
 
2. Os 2 milhões que sobraram, decidi dividir pelo padrão que, uma vez, o cantor e activista Harry Chapin me ensinou, sobre como ele próprio vivia: “Um para mim, um para o companheiro”. Então, peguei metade do dinheiro – e criei uma fundação para distribuir o dinheiro.
 
3. O milhão que sobrou, foi usado assim: paguei todas as minhas dívidas, algumas que eu devia aos meus melhores amigos e vários parentes; comprei um frigorífico para os meus pais; criei fundos para pagar a universidade das sobrinhas e sobrinhos; ajudei a reconstruir uma igreja de negros destruída num incêndio, lá em Flint; distribuí mil perus no Dia de Ação de Graças; comprei equipamento de filmagem e mandei para o Vietnã (a minha ação pessoal, para reparar parte do mal que fizemos àquele país, que nós destruímos); compro, todos os anos, 10 mil brinquedos, que dou a Toys for Tots no Natal; e comprei para mim uma moto Honda, fabricada nos EUA, e um apartamento hipotecado, em Nova York.
 
4. O que sobrou, depositei numa conta de poupança simples, que paga juros baixos. Tomei a decisão de jamais comprar ações. Nunca entendi o cassino chamado Bolsa de Valores de Nova York, nem acredito em investir num sistema com o qual não concordo.
 
5. Sempre entendi que o conceito do dinheiro que gera dinheiro criara uma classe de gente gananciosa, preguiçosa, que nada produz além de miséria e medo para os pobres. Eles inventaram meios de comprar empresas menores, para imediatamente as fechar. Inventaram esquemas para jogar com as poupanças e reformas dos pobres, como se o dinheiro dos outros fosse dinheiro deles. Exigiram que as empresas sempre registassem lucros (o que as empresas só conseguiram porque despediram milhares de trabalhadores e acabaram com os serviços de saúde pública para os que ainda tinham empregos). Decidi que, se ia afinal ‘ganhar a vida’, teria de ganhá-la com o meu trabalho, o meu suor, as minhas ideias, a minha criatividade. Eu produziria produtos tangíveis, algo que pudesse ser partilhado com todos ou de que todos gostassem, como entretenimento, ou do qual pudessem aprender alguma coisa. O meu trabalho, sim, criaria empregos, bons empregos, com salários decentes e todos os benefícios de assistência médica.
 
Continuei a fazer filmes, a produzir séries de televisão e a escrever livros. Nunca iniciei um projecto pensando “quanto dinheiro posso ganhar com isso?”. Nunca deixei que o dinheiro fosse a força que me fizesse fazer qualquer coisa. Fiz, simplesmente, exatamente o que queria fazer. Essa atitude ajuda a manter honesto o meu trabalho – e, acho, ao mesmo tempo, que resultou em milhões de pessoas que compram bilhetes para assistir aos meus filmes, assistem aos programas que produzo e compram os meus livros.
 
E isso, precisamente, enlouqueceu a direita. Como é possível que alguém da esquerda tenha tanta audiência no ‘grande público’?! Não pode ser! Não era para acontecer (Noam Chomsky, infelizmente, não vai aparecer no Today View de hoje; e Howard Zinn, espantosamente, só chegou à lista dos mais vendidos do New York Times depois de morto). Assim opera a máquina dos meios de comunicação. Está regulada para que ninguém jamais ouça falar dos que, se pudessem, mudariam todo o sistema, para coisa muito melhor. Só liberais sem personalidade, que vivem de exigir cautela e concessões e reformas lentas, aparecem com os nomes impressos nas páginas de editoriais dos jornais ou nos programas da televisão aos domingos.
 
Eu, de algum modo, encontrei uma brecha na muralha e meti-me por ali. Sinto-me abençoado, podendo viver como vivo – e não ajo como se tudo fosse garantido para sempre. Acredito nas lições que aprendi numa escola católica: que se tens sucesso, maior é a tua responsabilidade por quem não tenha a mesma sorte. “Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos.” Meio comunista, eu sei, mas a ideia é que a família humana existe para partilhar com justiça as riquezas da terra, para que os filhos de Deus passem por esta vida com menos sofrimento.
 
Dei-me bem – para autor de documentários, dei-me super bem. Isso, também, faz enlouquecer os conservadores. “Você está rico por causa do capitalismo!” – gritam. Hummm... Não. Não assistiram às aulas de Economia I? O capitalismo é um sistema, um esquema ‘pirâmide’ que explora a vasta maioria, para que uns poucos, no topo, enriqueçam cada vez mais. Ganhei o meu dinheiro à moda antiga, honestamente, fabricando produtos, coisas. Nuns anos, ganho uma montanha de dinheiro, noutros anos, como o ano passado, não tenho trabalho (nada de filme, nada de livro); então, ganho muito menos. “Como é que você diz que defende os pobres, se você é rico, exatamente o contrário de ser pobre?!” É o mesmo argumento de quem diz que, “Você nunca fez sexo com outro homem! Como pode ser a favor do casamento entre dois homens?!"
 
Penso como pensava aquele Congresso só de homens que votou a favor do voto para as mulheres, ou como os muitos brancos que foram às ruas, marchar com Martin Luther Ling, Jr. (E lá vem a direita, aos gritos, ao longo da história: “Hei! Você não é negro! Você nem foi linchado! Por que está a favor dos negros?!”). Essa desconexão impede que os Republicanos entendam por que alguém dá o próprio tempo ou o próprio dinheiro para ajudar quem tenha menos sorte. É coisa que o cérebro da direita não consegue processar. “Kanye West ganha milhões! O que está a fazer lá, em Occupy Wall Street?!”. Exatamente – lá está, exigindo que aumentem os impostos a ele mesmo. Isso, para a direita, é definição de loucura. Todo o resto do mundo somos muito gratos que gente como ele se tenha levantado, ainda que – e sobretudo porque – é gente que se levantou contra os seus interesses pessoais financeiros. É precisamente a atitude que a Bíblia, que aqueles conservadores tanto exaltam por aí, exige de todos os ricos.
 
Naquele dia distante, em novembro de 1989, quando vendi o meu primeiro filme, um grande amigo meu disse o seguinte: “Eles cometeram um erro muito grave, ao entregar tanto dinheiro a um sujeito como tu. Essa massa fará de ti um homem perigosíssimo. É prova do acerto do velho dito popular: ‘Capitalista é o sujeito que te vende a corda para enforcar a ele mesmo, se achar que, na venda, pode ganhar algum dinheiro.”

sexta-feira, novembro 04, 2011

A mão invisível e a graça irresistível do mercado


A mão invisível e a graça irresistível do mercado

Se entendermos dois aspectos da economia de mercado, concordaremos que há sempre uma teia religiosa para conectar as práticas. Um aspecto é o da “mão invisível” do mercado, pretensa reguladora da justiça, um conceito idêntico ao da soberania do nosso cristianismo determinista: renda-se ao mercado, ele garante que no final tudo se encaixa. É o tapeceiro, só vemos o avesso, o mercado-tapeceiro tece do lado certo. O outro aspecto é o da “graça irresistível” do mercado. Ou você se abre para a economia de mercado ou está destinado ao “inferno” decadente e isolado do mundo – é a inexorabilidade do mercado. Você vem para o “Senhor” nem que seja pela dor.
Não seria o evangelho de Jesus o “niilismo mais radical” que desmascara os encantamentos religiosos: que quebra os odres velhos?
O que pode ser menos religioso que o evangelho de Jesus?
O que pode a transformar “crentes no capital” em “ateus anárquicos” mais que o evangelho do Cristo de Deus?
Elienai Cabral Júnior, em comentário a este documento
Da série: Do tempo em que a Bacia era aberta a comentários
Leia também:
O profeta e a revolução

terça-feira, novembro 01, 2011

"Campanha de desopinionização"


Campanha de desopinionização

Submetido à sua avaliação por   PAULO BRABO

Estocado em Pormenor



Numa verdadeira democracia o único princípio mais fundamental que a liberdade de expressão deve ser, naturalmente, a liberdade de pensamento. O direito da outra pessoa se expressar termina onde começa o seu direito de pensar por si mesmo.
Se você refletir bem, verá que quando expressa abertamente a sua opinião você está tacitamente condenando a opinião da pessoa que discorda de você. Está, na melhor das hipóteses, causando constrangimento; na pior, está coagindo um agente livre aNada é mais tendencioso do que uma opinião. alterar suas próprias crenças e valores em favor de uma opinião alheia – e o que é pior: a sua.
Nada é mais tendencioso do que uma opinião. O paradoxo da democracia, portanto, está em que todas as vezes que emite uma opinião você está ferindo a liberdade de pensamento de outra pessoa.
A fim de resolver esse problema, em países mais civilizados que o nosso a liberdade de expressão já foi totalmente suprimida em favor da liberdade de pensamento. Para que todos sejam livres para pensarem como quiserem, ninguém deve ter a liberdade de expor a sua opinião para quem quer que seja.
Visto que nada é mais perigoso do que uma opinião errada, e nada é mais afrontoso à inalienável liberdade de pensamento do ser humano que ser submetido a uma opinião contrária à sua, cabe ao governo livrar os cidadãos desse constrangimento. Tendo em vista a sereníssima e recente legislação que preconiza o desarmamento da população civil, considero pertinente dar-se início a uma campanha paralela de desopinionização da sociedade brasileira.
O governo, antes de se importar com ninharias como as armas de fogo, deveria dar prioridade a impedir a circulação desenfreada de opiniões, argumentos e ideias – que consistem, como se sabe, na verdadeira origem de toda discórdia e de toda violência. Antes do desarmamento deveria vir a desopinionização.
Se tudo acontecer como prevejo, a nova lei vedará o porte de opiniões por civis, com exceção para casos onde há ameaça à vida da pessoa. Somente poderão andar munidos de opiniões os responsáveis pela garantia da segurança pública, integrantes das Forças Armadas, policiais, agentes de inteligência e agentes de segurança privada. E civis com porte concedido pela Polícia Federal.
Quem for apanhado empunhando sua opinião sem o devido porte será preso. O porte ilegal será crime inafiançável. Só pagará fiança quem for pego expressando opinião de uso permitido e estando registrada em seu nome. Se o porte ilegal for de opinião de uso restrito, além de ser crime inafiançável, o réu não terá direito a liberdade provisória. O mesmo tratamento terá quem praticar a propagação ilegal de ideias e o tráfico internacional de opiniões.
As opiniões apreendidas ou entregues pela população serão destruídas pelo Comando do Exército.
Das opiniões que já expressei livremente, esta deverá portanto ser a última. Apenas a sua liberdade de pensamento vale que eu cale a boca.

Publicado originalmente em 15 de agosto de 2005
http://www.baciadasalmas.com/2011/campanha-de-desopinionizacao-2/

segunda-feira, novembro 21, 2011

Movimentos sociais, movimento estudantil e prática militante

E, se as formas de organização criadas para isto estão funcionado de maneira insatisfatória, o problema está em ativá-las ou em mudá-las, conferindo-lhes a eficácia que deveriam ter." Leandro Konder



Não creio que vivemos numa "falência", mas sim vivemos numa crise organizacional onde as demandas impostas pela contradição e dinâmica capitalista e a própria reestruturação produtiva e acumulação flexível mudou o cenário da organização social, principalmente a sindical e isso impactou nos movimentos sociais, culminando no que hoje algumas teses defendem como crise organizacional dos movimentos sociais, ou seja, um problema de conjuntura e co-relação de forças que não está nada favorável a classe trabalhadora. 

Primeiro, o que é movimento social? o movimento social é expressão das relações sociais objetivas e subjetivas, determinadas pelas relações entre estrutura e superestrutura no movimento real da totalidade concreta de um determinado período histórico e suas manifestações são estruturais e conjunturais.

A culpa não é do "vilão" capitalismo, mas sim de todas as suas expressões, contradições, complexos dos complexos, já disse Luckás. Não sei que "maquiavelismo" ou "teoria do caos" ou sei lá o que é esse bla bla bla de tática de movimentos sociais, Argumento sem nenhum embasamento, se trata apenas de um julgamento moral a meu ver.

Infelizmente, camaradas, as contradições se dão nos aspectos micro, e macros da dinâmica sociais, e DA's, movimento estudantil são profundamente afetados pelo descenso e refluxo da luta de classes, e infelizmente alguns companheiros só criticam e não movem se quer uma palha para mudar algo. Isso sim é triste.

Obviamente devemos caminhar para uma dita "perfeição" na nossa prática militante, mas com a realidade adversa que vivemos, não é fácil. A construção de valores no movimento estudantil, valores humanos, emancipatórios e autonomos são bastantes complicados, pelo próprio perfil que é a academia e seu distanciamento da classe trabalhadora, então não somos uma bolha da perfeição que não é atingindo pela complexidade que é a dinâmica social, e não podemos reduzir isso a um discurso idealista e romântico.

Obviamente o conceito de representatividade é pequeno-burgues, por que a "representação" exclui, direta ou indireta, a participação de outro ser na política. Mas não podemos utilizar a culpabilização de sujeitos na análise, pois assim chegamos até a um retrocesso de análise, eram os positivistas que faziam isso, não? A participação e a militância no movimento estudantil tem importância fundamental para a formação político-ideológica.


Participar do movimento estudantil implica assumir uma certa autonomia, a tomar posição crítica com relação à instituição escolar e seus muitos mecanismos. A primeira fronteira se rompe, portanto, é a da própria sala de aula [...]. E as fronteiras físicas da universidade em que estudamos também se rompem [...]. E as fronteiras que se acabam por romper são também ideológicas – rompem-se cerca de muitos preconceitos pequeno-burgueses – aprende-se assim, já em princípio, que as saídas individuais não são saídas, mas adequações e que elas, em definitivo, não resolvem nem os problemas individuais mais imediatos, dirá os problemas históricos e sociais mais graves. Por isso, rompe-se a fronteira do imediato (ARAÚJO e SOUSA NETO, 2007, p. 258)


Camaradas, de certo a eleição de uma chapa ou outra para DA não é a tão democracia e emancipação política que queremos, que está no nosso HORIZONTE UTÓPICO. devemos COLETIVAMENTE buscar alternativas de abrir a gestão dos DA e CA's, é uma tarefa fácil? Não, não o é. Mas ai vamos juntas e juntos buscar as soluções para os nossos "problemas."

A realidade do curso de Serviço Social da UFPE é uma realidade para muitas universidades públicas, infelizmente a mudança socio-econômica não anda na mesma velocidade da mudança juridica-politica. Mas devemos entender as universidades, instituições, governos, estados e afins como detentoras de relações AMPLIADAS, complexas, e contraditórias, Mais uma vez aqui o dito complexos dos complexos, unidade dos contrários. Isso só uma negação da negação para "resolver". (ignorem o etapismo)


A tal UNE, (UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES), entidade histórica e legitima criada a partir da necessidade de organizar as lutas estudantis infelizmente vive um MOMENTO DE CONJUNTURA E CO-RELAÇÃO DE FORÇAS QUE NÃO É AO "NOSSO" FAVOR. Como assim o foi em outros momentos históricos e que a partir da disputa e luta conseguimos reaver, mas que depois também foi tomada por um grupo que hoje vai numa perspectiva ala direita. é um braço do governo? É, em sua maioria. devemos reconquista a UNE, disputá-la, no debate, na conversa, nas propostas, é bem dificil fazer isso tendo em vista os valores capitalistas e pequeno-burgueses empregados pela maioria, como dinheiro, sexo, comida e bebida, e algumas drogas... mas camarada, é uma tarefa para tod@s os estudantes. Pois criar outra entidade ou aboli-las de vez com certeza não solucionará todos os empasses, desafios e dilemas que enfrenta o movimento estudantil de esquerda na atualidade. Não nesse dado momento histórico.

Infelizmente é isso, eles CONSEGUEM DIALOGAR COM A POPULAÇÃO, coisa que a extrema esquerda ou seja lá o que for não consegue fazer. É um desafio que está posto camarada, cabe-nos fazer ALGUMA COISA.

Não se trata de legitimar ou não a entidade camaradas, vejo que o buraco é mais em "cima".  Mas é entender que o problema não é unica e exclusivamente da gestão. Não podemos cair nesse discurso de bom e mau, vilão e herói. A situação é mais complexa do que parece, até onde sei, na UFPE, os estudantes de Serviço Social deram e dão enormes contribuição para o ME, o MESS e a ENESSO, pelo menos uma parte que se dispões dias e dias da sua vida a construir uma categoria forte e um projeto ético político que vise a emancipação, a liberdade, a democracia. Eu sei que existem dois grupos disputando a gestão do DASS, um deles até exageram na critica a UNE, outros entendem a UNE em sua totalidade. 

Como você disse o problema não é de direção, é de conjuntura e co-relação de forças, mas a gestão pode fazer sim uma pequena diferença. Tendo em vista todo o histórico e legitimidade da UNE, Que queiramos ou não, tem respaldo nessa torcida organizada que é a UJS, nas escolas particulares e nos reunistas e prounistas. E eles são também trabalhadores, como eu, você e outros companheiros.

Infelizmente o movimento estudantil tem essas práticas de coleguismo, capismo, e afins, por ter suas particulares estruturais, por ser um movimento ciclico que pouco consegue dar continuidade e coesão. Por ser sim HETEROGENEO , CICLICO E POLICLASSISTAS. Mas são desafios que estão postos para toda a militancia. Cabe-nos combater essas práticas.

O problema é, na minha opinião, julgar alguém de pseudo-revolucionário ou não... cara, a prática nos dirá. Não podemos idealizar um tipo X de militancia. devemos caminhar para tal militancia, que dificilmente se dará sem um processo revolucionário.

O movimento estudantil deve ser autonomo, sim o deve. mas não podemos descartar que as bandeiras a ser defendidas pelo ME as vezes se entrelaçam com bandeiras de partidos, principalmente o MESS por sua maturidade política de sua luta associada a um projeto de sociedade... No mais peço que os compas que respondam tal acusação.

Eu construo o MPL, mas até que ponto existe auto-gestão? Vamos juntos buscar as respostas. Mas, cammarada, não se pode comparar o "incomparavel".

O papel de uma organização na história é interpretar os desafios que as circustancias apresentam e tentar resolvê-los, criando novas circustancias. Vivemos, infelizmente, num tempo de vazio de alternativas, de ideias e iniciativas, que leva cada vez mais a sociedade a bárbarie. No mais temos que nos concentrar nesse momento adverso num processo simples e complexo ao mesmo tempo, o processo de crítica e auto-crítica , de maneira fraterna e construtiva. Não nascemos militantes, nos fazemos militantes e poderemos deixar de ser no momento em que deixarmos de transformar a nós mesmos e a nossa volta (dentro de como podemos) no fazer cotidiano.

Precismaos combater a espontaneidade, elevar o nivel de consciencia da classe trabalhadora e ir além da "luta imediata". 

O indivíduo isolado, normalmente, não pode faze história: suas forças são muito limitadas. Por isso, o problemas da organização capaz de levá-lo a multiplicar suas energias e ganhar eficácia é um problema crucial para todo revolucionário. É preciso que a organização não se torne opaca para o indivíduo, que ele não se sinta perdido dentro dela; é preciso que ela não o reduza a uma situação de impotência contemplativa ou a um ativismo cego. Se não, o indivíduo fica impossibilitado de atuar revolucionariamente e se sente alienado na atividade coletiva.


Shellen Galdino, em resposta a um email meio anarco na lista da enesso regional. =) me inspirei ó 

HAHAHAHAHAHA

=)




email: PARA QUE VOTAR NAS ELEIÇÕES DO DASS?



Vemos hoje uma falência nas táticas de luta nos movimentos populares, seja no meio estudantil, sindical, etc. Mas será que essas não aglutinação, apatia, se deve apenas por causa do sistema capitalista que fomenta isso a todos instantes ? Será que isso também não é uma tática de vários movimentos que visam dirigir as massas e colocam aqueles que deviam lutar ombro a ombro como incapazes de fazer a politica que regerá suas vidas.
Mais triste é vemos tais processos se repetirem em em pequenos espaços onde deveriam ser o lugar onde se mostraria que é perfeitamente possível fazermos uma politica de outra forma da qual cotidianamente vemos, uma politica totalmente coerente com o que queremos, baseada nas mais fortes bases que podem haver, a solidariedade, o apoio mutuo, a democracia direta, a ação direta.
Espaços como um D.A deve servir para todos estudantes e não somente para um grupo eleito pela ditadura da maioria, isso não é democracia, democracia se faz diretamente, esse conceito de representatividade é um conceito burgues deturpado do que realmente significa democracia.

O pior é ainda nos encontramos em tal situação como vive o curso de Serviço Social da UFPE, ainda vivendo sob a legitimidade a uma entidade totalmente aparelhada, governista, que usa do aparato policial pra fazer o papel que o estado hoje a demanda-a. 
A tal UNE ( união neoliberal dos estudantes ) que vive sob o comando do mesmo grupo desde sua volta em 1979, ainda na ditadura, é hoje o maior braço dos parlamentares no governo, em nosso caso, municipal, estadual e federal, para implementação de suas politicas, pois se um dia ele foi de luta hoje luta contra os estudantes, onde podemos lembrar as maiores pautas que nos apareceram nos últimos anos como o REUNI e aumento de passagens em varias cidades. No primeiro caso a UNE se colocou junto a policia na desocupação da USP, para citar o maior caso, onde houve confrontos com outros estudantes alí ocupados e no caso da UFPE, fez passeatas contra a ocupação da reitoria e chamou os ocupantes de burgueses que não queria que abrissem vagas paras os pobres, escondendo totalmente o que verdadeiramente é o REUNI.
No segundo caso podemos citar o nosso aqui em Pernambuco, onde em 2005 os estudantes da UNE trabalharam junto a policia indicando aqueles que não agiam ordeiramente, “os baderneiros” , dando um simples OK e falando, esse pode levar, e vários estudantes detidos foram levados pra quarteis e pra matas do exercito, como a perto do shopping Tacaruna, e lá torturados.

Não sitamos aqui que os estudantes presentes na/s chapa/s legitimem diretamente tais atos, mas ao legitimar tal entidade legitima-se suas ações. Não devemos também cair mais uma vez no simples discurso que isso é um problema de direção, pois não o é, deixemos tal discurso para os que se colocam como “esquerda da UNE” , que na verdade tem nomes claros para quem ainda se coloca dentro de uma entidade que dizem ter divergências, oportunismo, peleguismo.




Tais grupos por muitas vezes se colocam como diferentes, que não é a mesma politica vista lá fora dos muros da universidade, ou de um simples centro, se aproveitando por serem pessoas que sempre a vemos nos nossos corredores, que é da mesma sala que nós, etc. Ou seja o discurso do coleguismo, o que faz que muitos votem em tais. O coleguismo é apenas uma trava para o pensamento critico do processo posto e assim ficamos apenas com nossos coleguinhas de curso e seus cartazes, assimilando no máximo seus dizeres, que por vezes são belos, que falam de liberdade, sociedade emancipada, autonomia, ora, isso não passa de palavreados pseudo revolucionários. Para isso avaliemos tais palavras,brevemente.
Como falar de autonomia um grupo que se coloca dentro da UNE, dentro de UM coletivo que também a legitima, o quebrando pedras e plantando flores, nome dado também a ultima gestão, onde vemos já pela sua carta de princípios demandas de um partido, será que foi coincidência ? o mesmo partido que participou das 2 semanas dos movimentos sociais feita por esse grupo, participou do coress, falamos aqui do PCB, será tudo coincidência ?
Autonomia implica diretamente em um não aparelhamento e será que isso não acontece ?
Como assim falarmos de uma sociedade emancipada, se nos mínimos espaços não rumamos para isso ? Uma outra politica que nos levará a outro mundo só será uma politica que seja totalmente coerente com os fins que dizemos tanto querer. Uma sociedade sem classes, só virá se agirmos ombro a ombro com todos que verdadeiramente a deseja, levando nossas lutas pelos caminhos da ação direta, da autogestão, da não burocratização de nossos espaços, isso é o que devemos pautar em todos os campos que vivemos.
Um D.A só será de todos estudantes de fato, se todos poderem dele participar como qualquer outro, isso implica em outra forma de luta, na não legitimação de espaços como o de uma eleição, que não passa de uma falsa legitimação para um grupo.
Não cairemos também no discurso de que o D.A é aberto, venha construir conosco, isso é um discurso que só pode fortalecer a situação, Querer que você trabalhe para outros levarem a fama.
Mais que tudo passamos por um problema Estrutural, não é apenas mudando o grupo na gestão do D.A ou apenas o nome que iremos nos movimentar para algo novo. 
Busquemos pelo novo, já temos pelo Brasil vários diretórios autogeridos onde a abertura já fez trazer vários estudantes para os quadros de uma luta mais legitima. Não vamos cair no discurso daqueles que temem a liberdade, que dizem que autogestão não funciona, olhemos o caso do do diretório de ciências sociais da UFPE, onde agora temos institucionalmente uma autogestão e vemos um grupo que vem puxando vários debates e ações como o caso do professor que assediou uma estudante, copa do mundo, apoio a USP, universidade democrática...
Olhemos para movimentos como o MPL, Movimento pelo passe-livre, movimento autogerido, federalizado, que age pela ação direta, mostrando que tais táticas caminham para o viés de algo mais justo que essa politica, e assim, vemos que isso é perfeitamente possível.

A politica só pode ser feita se for por nossas mãos. 
Ninguém estuda por você
Ninguém Faz politica por você.




O escravo moderno está convencido de que não existe alternativa na organização do mundo atual. Ele se resignou a esta vida porque pensa que não pode haver outra. E é ai mesmo que se encontra a força da dominação presente: entreter a ilusão desse sistema que colonizou toda a face da Terra é o fim da história. Convenceu a classe dominada que adaptar-se a sua ideologia é como adaptar-se ao mundo tal qual se mostra e como sempre foi. Sonhar com outro mundo se tornou um crime criticado unanimemente pelos meios de comunicação e os poderes públicos. O criminoso é na realidade aquele que contribui, consciente ou não, na demência da organização social dominante. Não existe loucura maior que a do sistema atual.

segunda-feira, novembro 14, 2011

O evangelho de Google


O evangelho de Google




Deus existe, chama-se Google, e alguns de nós consultam-no e fazem-lhe pedidos todos os dias.
A tese da divindade do santuário de busca mais freqüentado da terra, pregada ardentemente pelo tecno-profeta Matt MacPherson, ainda não foi, que eu saiba, refutada a contento.
Uma página apologética do sáite A Igreja de Google argumenta sensatamente que “existe mais evidência em favor da existência de Google do que de qualquer outro deus adorado nos nossos dias”.
Se você se preocupa com esse tipo de coisa, o Google encaixa-se confortavelmente dentro de alguns dos mais exigentes atributos que a teologia ortodoxa estabeleceu para Deus: ele é onisciente (sabe tudo que há para se saber – basta perguntar), onipresente (esta em e é acessível de todos os lugares, ainda mais com acesso wireless), imortal (suas informações e algoritmos estão distribuídos entre vários servidores, de modo que não há como se apagardefinitivamente uma porção do Google), registra todos os nossos erros e preferências e tem vocação para infinito.
Para o adorador casual, mais importante pode ser saber que o Google responde consistentemente as orações que se lhe fazem, e de forma mais rápida, organizada, relevante e abrangente do que qualquer deus competidor. As orações ao Google, que na tecno-ortodoxia chamam-se buscas, têm um potencial de resposta avassalador. Se você quer permanecer ignorante a respeito de determinada coisa, é melhor não consultar o oráculo do Google – o deus cego e generoso que tudo vê, tudo sabe e nada vai negar.
O REINO DE GOOGLE ESTÁ PRÓXIMO.

O Google pode ajudá-lo a organizar-se e manter-se informado, pode fornecer informações sobre como salvar uma vida ou tirá-la, pode oferecer uma cópia de segurança para os seus arquivos quando seu computador fritar, pode ajudá-lo a encontrar amigos há muito perdidos, a encontrar o caminho mais rápido e eficiente para determinado lugar ou a ver a Terra de cima.
Seu poder e sua sabedoria não páram de crescer, sua graça é abundante sobre justos e injustos, suas atualizações renovam-se a cada manhã.
O que me traz invariavelmente à lembrança o curtíssimo conto de ficção científica de Fredric Brown, “Answer”, de 1954. Num futuro distante autoridades estelares ligam pela primeira vez o interruptor que conecta os supercomputadores de noventa e seis bilhões de planetas “numa máquina cibernética que combina todo o conhecimento de todas as galáxias”.
– A honra de fazer a primeira pergunta é sua, Dwar Reyn.
Ele vira-se para olhar a máquina de frente.
– Deus existe?
A voz poderosa responde sem hesitação, sem o clique de um único relé.
– Agora existe.
Na história eles até tentam desligar o interruptor, mas é tarde demais. O reino de Google está próximo.
http://www.baciadasalmas.com/2006/o-evangelho-de-google/

domingo, novembro 06, 2011

Viver entre os 1%


11/2011 - 17h21 | Michael Moore | Nova York

Viver entre os 1%

 
 

Amigos,
 
Há 22 anos, que se completam nesta terça-feira, estava com um grupo de operários, estudantes e desempregados no centro da cidade onde nasci, Flint, Michigan, para anunciar que o estúdio Warner Bros, de Hollywood, comprara os direitos de distribuição do meu primeiro filme, “Roger & Me”. Um jornalista perguntou: “Por quanto vendeu?”
 
“Três milhões de dólares” – respondi com orgulho. Houve um grito de admiração, do pessoal dos sindicatos que me cercava. Nunca acontecera, nunca, que alguém da classe trabalhadora de Flint (ou de lugar algum) tivesse recebido tanto dinheiro, a menos que um dos nossos roubasse um banco ou, por sorte, ganhasse o grande prêmio da loteria de Michigan. 
 
Naquele dia ensolarado de novembro de 1989, foi como se eu tivesse ganho o grande prêmio da loteria – e o pessoal com quem eu vivia e lutava em Michigan ficou eufórico com o meu sucesso. Foi como se um de nós, finalmente, tivesse conseguido, tivesse chegado lá, como se a sorte finalmente nos tivesse sorrido. O dia acabou em festa. Quando se é trabalhador, de família de trabalhadores, todos cuidam de todos, e quando um se dá bem, ou outros vibram de orgulho – não só pelo que conseguiu ter sucesso, mas porque, de algum modo, um de nós venceu, derrotou o sistema brutal contra todos, sem mercê, que comanda um jogo cujas regras são distorcidas contra nós.
 
Nós conhecíamos as regras, e as regras diziam que nós, ratos das fábricas da cidade, nunca conseguíamos fazer cinema, ou aparecer em entrevistas na televisão ou conseguíamos fazer-nos ouvir em palanque nacional. A nossa parte deveria ser ficar de bico calado, cabeça baixa, e voltar ao trabalho. E, como que por milagre, um de nós escapara dali, estava a ser ouvido e visto por milhões de pessoas e estava ‘cheio de massa’ – santa mãe de deus, preparem-se! Um palanque e muito dinheiro... agora, sim, é que os de cima vão ver!
 
Naquele momento, eu sobrevivia com o subsídio de desemprego, 98 dólares por semana. Saúde pública. O meu carro morrera em abril: sete meses sem carro. Os amigos convidavam-me para jantar e sempre pagavam a conta antes que chegasse à mesa, para me poupar ao vexame de não poder dividi-la.
 
E então, de repente, lá estava eu montado em três milhões de dólares. O que eu faria do dinheiro? Muitos rapazes de terno e gravata apareceram com montes de sugestões, e logo vi que, quem não tivesse forte sentido de responsabilidade social, seria facilmente arrastado pela via do “eu-eu” e muito rapidamente esqueceria a via do “nós-nós”.
 
Em 1989, então, tomei decisões fáceis:
 
1. Primeiro de tudo, pagar todos os meus impostos. Disse ao sujeito que fez a declaração de rendimentos, que não declarasse nenhuma dedução além da hipoteca; e que pagasse todos os impostos federais, estaduais e municipais. Com muita honra, paguei quase um milhão de dólares pelo privilégio de ser norte-americano, cidadão deste grande país.
 
2. Os 2 milhões que sobraram, decidi dividir pelo padrão que, uma vez, o cantor e activista Harry Chapin me ensinou, sobre como ele próprio vivia: “Um para mim, um para o companheiro”. Então, peguei metade do dinheiro – e criei uma fundação para distribuir o dinheiro.
 
3. O milhão que sobrou, foi usado assim: paguei todas as minhas dívidas, algumas que eu devia aos meus melhores amigos e vários parentes; comprei um frigorífico para os meus pais; criei fundos para pagar a universidade das sobrinhas e sobrinhos; ajudei a reconstruir uma igreja de negros destruída num incêndio, lá em Flint; distribuí mil perus no Dia de Ação de Graças; comprei equipamento de filmagem e mandei para o Vietnã (a minha ação pessoal, para reparar parte do mal que fizemos àquele país, que nós destruímos); compro, todos os anos, 10 mil brinquedos, que dou a Toys for Tots no Natal; e comprei para mim uma moto Honda, fabricada nos EUA, e um apartamento hipotecado, em Nova York.
 
4. O que sobrou, depositei numa conta de poupança simples, que paga juros baixos. Tomei a decisão de jamais comprar ações. Nunca entendi o cassino chamado Bolsa de Valores de Nova York, nem acredito em investir num sistema com o qual não concordo.
 
5. Sempre entendi que o conceito do dinheiro que gera dinheiro criara uma classe de gente gananciosa, preguiçosa, que nada produz além de miséria e medo para os pobres. Eles inventaram meios de comprar empresas menores, para imediatamente as fechar. Inventaram esquemas para jogar com as poupanças e reformas dos pobres, como se o dinheiro dos outros fosse dinheiro deles. Exigiram que as empresas sempre registassem lucros (o que as empresas só conseguiram porque despediram milhares de trabalhadores e acabaram com os serviços de saúde pública para os que ainda tinham empregos). Decidi que, se ia afinal ‘ganhar a vida’, teria de ganhá-la com o meu trabalho, o meu suor, as minhas ideias, a minha criatividade. Eu produziria produtos tangíveis, algo que pudesse ser partilhado com todos ou de que todos gostassem, como entretenimento, ou do qual pudessem aprender alguma coisa. O meu trabalho, sim, criaria empregos, bons empregos, com salários decentes e todos os benefícios de assistência médica.
 
Continuei a fazer filmes, a produzir séries de televisão e a escrever livros. Nunca iniciei um projecto pensando “quanto dinheiro posso ganhar com isso?”. Nunca deixei que o dinheiro fosse a força que me fizesse fazer qualquer coisa. Fiz, simplesmente, exatamente o que queria fazer. Essa atitude ajuda a manter honesto o meu trabalho – e, acho, ao mesmo tempo, que resultou em milhões de pessoas que compram bilhetes para assistir aos meus filmes, assistem aos programas que produzo e compram os meus livros.
 
E isso, precisamente, enlouqueceu a direita. Como é possível que alguém da esquerda tenha tanta audiência no ‘grande público’?! Não pode ser! Não era para acontecer (Noam Chomsky, infelizmente, não vai aparecer no Today View de hoje; e Howard Zinn, espantosamente, só chegou à lista dos mais vendidos do New York Times depois de morto). Assim opera a máquina dos meios de comunicação. Está regulada para que ninguém jamais ouça falar dos que, se pudessem, mudariam todo o sistema, para coisa muito melhor. Só liberais sem personalidade, que vivem de exigir cautela e concessões e reformas lentas, aparecem com os nomes impressos nas páginas de editoriais dos jornais ou nos programas da televisão aos domingos.
 
Eu, de algum modo, encontrei uma brecha na muralha e meti-me por ali. Sinto-me abençoado, podendo viver como vivo – e não ajo como se tudo fosse garantido para sempre. Acredito nas lições que aprendi numa escola católica: que se tens sucesso, maior é a tua responsabilidade por quem não tenha a mesma sorte. “Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos.” Meio comunista, eu sei, mas a ideia é que a família humana existe para partilhar com justiça as riquezas da terra, para que os filhos de Deus passem por esta vida com menos sofrimento.
 
Dei-me bem – para autor de documentários, dei-me super bem. Isso, também, faz enlouquecer os conservadores. “Você está rico por causa do capitalismo!” – gritam. Hummm... Não. Não assistiram às aulas de Economia I? O capitalismo é um sistema, um esquema ‘pirâmide’ que explora a vasta maioria, para que uns poucos, no topo, enriqueçam cada vez mais. Ganhei o meu dinheiro à moda antiga, honestamente, fabricando produtos, coisas. Nuns anos, ganho uma montanha de dinheiro, noutros anos, como o ano passado, não tenho trabalho (nada de filme, nada de livro); então, ganho muito menos. “Como é que você diz que defende os pobres, se você é rico, exatamente o contrário de ser pobre?!” É o mesmo argumento de quem diz que, “Você nunca fez sexo com outro homem! Como pode ser a favor do casamento entre dois homens?!"
 
Penso como pensava aquele Congresso só de homens que votou a favor do voto para as mulheres, ou como os muitos brancos que foram às ruas, marchar com Martin Luther Ling, Jr. (E lá vem a direita, aos gritos, ao longo da história: “Hei! Você não é negro! Você nem foi linchado! Por que está a favor dos negros?!”). Essa desconexão impede que os Republicanos entendam por que alguém dá o próprio tempo ou o próprio dinheiro para ajudar quem tenha menos sorte. É coisa que o cérebro da direita não consegue processar. “Kanye West ganha milhões! O que está a fazer lá, em Occupy Wall Street?!”. Exatamente – lá está, exigindo que aumentem os impostos a ele mesmo. Isso, para a direita, é definição de loucura. Todo o resto do mundo somos muito gratos que gente como ele se tenha levantado, ainda que – e sobretudo porque – é gente que se levantou contra os seus interesses pessoais financeiros. É precisamente a atitude que a Bíblia, que aqueles conservadores tanto exaltam por aí, exige de todos os ricos.
 
Naquele dia distante, em novembro de 1989, quando vendi o meu primeiro filme, um grande amigo meu disse o seguinte: “Eles cometeram um erro muito grave, ao entregar tanto dinheiro a um sujeito como tu. Essa massa fará de ti um homem perigosíssimo. É prova do acerto do velho dito popular: ‘Capitalista é o sujeito que te vende a corda para enforcar a ele mesmo, se achar que, na venda, pode ganhar algum dinheiro.”

sexta-feira, novembro 04, 2011

A mão invisível e a graça irresistível do mercado


A mão invisível e a graça irresistível do mercado

Se entendermos dois aspectos da economia de mercado, concordaremos que há sempre uma teia religiosa para conectar as práticas. Um aspecto é o da “mão invisível” do mercado, pretensa reguladora da justiça, um conceito idêntico ao da soberania do nosso cristianismo determinista: renda-se ao mercado, ele garante que no final tudo se encaixa. É o tapeceiro, só vemos o avesso, o mercado-tapeceiro tece do lado certo. O outro aspecto é o da “graça irresistível” do mercado. Ou você se abre para a economia de mercado ou está destinado ao “inferno” decadente e isolado do mundo – é a inexorabilidade do mercado. Você vem para o “Senhor” nem que seja pela dor.
Não seria o evangelho de Jesus o “niilismo mais radical” que desmascara os encantamentos religiosos: que quebra os odres velhos?
O que pode ser menos religioso que o evangelho de Jesus?
O que pode a transformar “crentes no capital” em “ateus anárquicos” mais que o evangelho do Cristo de Deus?
Elienai Cabral Júnior, em comentário a este documento
Da série: Do tempo em que a Bacia era aberta a comentários
Leia também:
O profeta e a revolução

terça-feira, novembro 01, 2011

"Campanha de desopinionização"


Campanha de desopinionização

Submetido à sua avaliação por   PAULO BRABO

Estocado em Pormenor



Numa verdadeira democracia o único princípio mais fundamental que a liberdade de expressão deve ser, naturalmente, a liberdade de pensamento. O direito da outra pessoa se expressar termina onde começa o seu direito de pensar por si mesmo.
Se você refletir bem, verá que quando expressa abertamente a sua opinião você está tacitamente condenando a opinião da pessoa que discorda de você. Está, na melhor das hipóteses, causando constrangimento; na pior, está coagindo um agente livre aNada é mais tendencioso do que uma opinião. alterar suas próprias crenças e valores em favor de uma opinião alheia – e o que é pior: a sua.
Nada é mais tendencioso do que uma opinião. O paradoxo da democracia, portanto, está em que todas as vezes que emite uma opinião você está ferindo a liberdade de pensamento de outra pessoa.
A fim de resolver esse problema, em países mais civilizados que o nosso a liberdade de expressão já foi totalmente suprimida em favor da liberdade de pensamento. Para que todos sejam livres para pensarem como quiserem, ninguém deve ter a liberdade de expor a sua opinião para quem quer que seja.
Visto que nada é mais perigoso do que uma opinião errada, e nada é mais afrontoso à inalienável liberdade de pensamento do ser humano que ser submetido a uma opinião contrária à sua, cabe ao governo livrar os cidadãos desse constrangimento. Tendo em vista a sereníssima e recente legislação que preconiza o desarmamento da população civil, considero pertinente dar-se início a uma campanha paralela de desopinionização da sociedade brasileira.
O governo, antes de se importar com ninharias como as armas de fogo, deveria dar prioridade a impedir a circulação desenfreada de opiniões, argumentos e ideias – que consistem, como se sabe, na verdadeira origem de toda discórdia e de toda violência. Antes do desarmamento deveria vir a desopinionização.
Se tudo acontecer como prevejo, a nova lei vedará o porte de opiniões por civis, com exceção para casos onde há ameaça à vida da pessoa. Somente poderão andar munidos de opiniões os responsáveis pela garantia da segurança pública, integrantes das Forças Armadas, policiais, agentes de inteligência e agentes de segurança privada. E civis com porte concedido pela Polícia Federal.
Quem for apanhado empunhando sua opinião sem o devido porte será preso. O porte ilegal será crime inafiançável. Só pagará fiança quem for pego expressando opinião de uso permitido e estando registrada em seu nome. Se o porte ilegal for de opinião de uso restrito, além de ser crime inafiançável, o réu não terá direito a liberdade provisória. O mesmo tratamento terá quem praticar a propagação ilegal de ideias e o tráfico internacional de opiniões.
As opiniões apreendidas ou entregues pela população serão destruídas pelo Comando do Exército.
Das opiniões que já expressei livremente, esta deverá portanto ser a última. Apenas a sua liberdade de pensamento vale que eu cale a boca.

Publicado originalmente em 15 de agosto de 2005
http://www.baciadasalmas.com/2011/campanha-de-desopinionizacao-2/