domingo, outubro 14, 2012

As relações sociais, ou melhor, de consumo

Zygmunt Bauman, no livro "Amor líquido - Sobre a fragilidade dos laços humanos", está totalmente certo ao comparar os relacionamentos humanos (no caso específico ele fala de um relacionamento amoroso, mas podemos abranger) cada vez mais são tecidos por relações de mercado.

Com um forte processo de individualização da vida, as pessoas cada vez mais se relacionam de forma frágil e descartável. Vivemos os desejos do hoje, e queremos satisfazê-los de forma instantânea, que nem o miojo que cozinha em 3 minutos, ou que nem a facilidade do cartão de crédito, e assim vamos agindo, e nos relacionando via impulso.

O que queremos do outro é simplesmente absorver, consumir, devorar, digerir e por fim ANIQUILAR, afinal, quando não me for mais "conveniente", o que fazer com o objeto? Afinal, somos seres descartáveis.

Nessa sociedade, qualquer tipo de relacionamento é comparado a um "investimento", no sentido mais sombrio e perverso do termo. Tem que tudo dar certo, ou seja dar lucro! Tem que analisar as "condições objetivas", principalmente se envolver tempo, dinheiro, filhos...  Você "gasta tempo" e tudo mais, e quer retorno dos seus "investimentos", e melhor será se der errado, o que você investiu seja devolvido, como uma coisa qualquer do mercado, desde que se tenha a nota fiscal da mercadoria.

Nas palavras do próprio:

"Você compra ações e as mantém enquanto seu valor promete crescer, e as vende prontamente quando os lucros começam a cair ou outras ações acenam a cair ou outras ações acenam com um rendimento maior (o truque é não deixar passar o momento em que isso ocorre).



Outra coisa importante, que reforça o caráter de individualização da atual sociedade capitalista, é que se formos nós a pessoa em questão, é totalmente normal ver a outra como objeto, agora, não esperamos e nem queremos ser tratados como tal, afinal, para a outra pessoa, podemos ser a mercadoria idem, e ai, o bicho pega!

Mas, com todos os problemas de relações "líquidas", como instabilidade, atração e repulsão, contradições, de forma fluída, dolorosa, rápido e imprevisível, como se tudo isso fosse uma benção ambígua, entre o sonho e o pesadelo, quente e frio, amor e ódio... Talvez não vamos achar uma solução para esse "dilema" a curto prazo... E nem podemos descrer e sentimentos sinceros, confiáveis e verdadeiros.  

Não podemos tratar outras pessoas como objetos, se não me agrada mais, eu jogo fora e uso outro... Não somos telas em branco a espera de um pintor para jogar todas suas cores com os mais variados pincéis... Não estamos lidando com acessórios, e sim com pessoas, que tem vida, sentimentos, histórias e se propõe a se relacionar conforme a cultura dessa sociedade nos "impõe" e condiciona.. Porque não aprender a arte do reparo, ao invés da substituição e da troca? Afinal, estamos todos no mesmo barco...




Termino mais uma vez com essa frase tão sintética e coerente:

"Mas essa é a natureza do amor, comparável à do vento: fluido e arrasador."
Ferreira Gullar



Shellen Galdino
Outubro, domingo, primavera de 2012

domingo, outubro 14, 2012

As relações sociais, ou melhor, de consumo

Zygmunt Bauman, no livro "Amor líquido - Sobre a fragilidade dos laços humanos", está totalmente certo ao comparar os relacionamentos humanos (no caso específico ele fala de um relacionamento amoroso, mas podemos abranger) cada vez mais são tecidos por relações de mercado.

Com um forte processo de individualização da vida, as pessoas cada vez mais se relacionam de forma frágil e descartável. Vivemos os desejos do hoje, e queremos satisfazê-los de forma instantânea, que nem o miojo que cozinha em 3 minutos, ou que nem a facilidade do cartão de crédito, e assim vamos agindo, e nos relacionando via impulso.

O que queremos do outro é simplesmente absorver, consumir, devorar, digerir e por fim ANIQUILAR, afinal, quando não me for mais "conveniente", o que fazer com o objeto? Afinal, somos seres descartáveis.

Nessa sociedade, qualquer tipo de relacionamento é comparado a um "investimento", no sentido mais sombrio e perverso do termo. Tem que tudo dar certo, ou seja dar lucro! Tem que analisar as "condições objetivas", principalmente se envolver tempo, dinheiro, filhos...  Você "gasta tempo" e tudo mais, e quer retorno dos seus "investimentos", e melhor será se der errado, o que você investiu seja devolvido, como uma coisa qualquer do mercado, desde que se tenha a nota fiscal da mercadoria.

Nas palavras do próprio:

"Você compra ações e as mantém enquanto seu valor promete crescer, e as vende prontamente quando os lucros começam a cair ou outras ações acenam a cair ou outras ações acenam com um rendimento maior (o truque é não deixar passar o momento em que isso ocorre).



Outra coisa importante, que reforça o caráter de individualização da atual sociedade capitalista, é que se formos nós a pessoa em questão, é totalmente normal ver a outra como objeto, agora, não esperamos e nem queremos ser tratados como tal, afinal, para a outra pessoa, podemos ser a mercadoria idem, e ai, o bicho pega!

Mas, com todos os problemas de relações "líquidas", como instabilidade, atração e repulsão, contradições, de forma fluída, dolorosa, rápido e imprevisível, como se tudo isso fosse uma benção ambígua, entre o sonho e o pesadelo, quente e frio, amor e ódio... Talvez não vamos achar uma solução para esse "dilema" a curto prazo... E nem podemos descrer e sentimentos sinceros, confiáveis e verdadeiros.  

Não podemos tratar outras pessoas como objetos, se não me agrada mais, eu jogo fora e uso outro... Não somos telas em branco a espera de um pintor para jogar todas suas cores com os mais variados pincéis... Não estamos lidando com acessórios, e sim com pessoas, que tem vida, sentimentos, histórias e se propõe a se relacionar conforme a cultura dessa sociedade nos "impõe" e condiciona.. Porque não aprender a arte do reparo, ao invés da substituição e da troca? Afinal, estamos todos no mesmo barco...




Termino mais uma vez com essa frase tão sintética e coerente:

"Mas essa é a natureza do amor, comparável à do vento: fluido e arrasador."
Ferreira Gullar



Shellen Galdino
Outubro, domingo, primavera de 2012