quarta-feira, dezembro 22, 2010

Que festa de formatura você quer?

 Brasília, 20 de outubro de 2010.
 
 
 
 Fim de semestre na faculdade é sempre a mesma coisa: uns procurando
 estudar tudo o que não estudaram durante meses e outros correndo para
 apresentar a monografia que não trabalharam durante anos! Porém, esses
 últimos ainda tem uma preocupação a mais: organizar a festa de
 formatura. Esse parece ser o sonho dos pais, a farra dos amigos e o
 fetiche pelo produto chamado profissional, agora dotado de capital
 cultural, valorizando sua entrada (e saída) no trabalho, conhecido
 também como mercado. E se você virou mercadoria, por quê a sua festa
 de formatura haveria de ser diferente?
 
 Assim, eleva-se o ego para ver quem vai ser o orador da turma e, bem
 mais que ele, o orçamento da festa de formatura. A amizade de anos
 circunscrita em trabalhos feitos na madrugada, projetos de pesquisa,
 grupos cristãos, coletivos de diversidade, bebedeiras em churrascos,
 encontros estudantis e até confissões sobre a primeira transa ou
 cigarro de maconha dão lugar aos passos apressados, cara fechada,
 difamação de colegas ou na “melhor” das hipóteses ao sorriso
 disfarçado: pode ser um concorrente a orador!
 
 Logo depois entram em ação as fábricas de sonhos, mas que também
 organizam a sua festa. São vários os preços para todos os gostos,
 menos para o gosto das classes populares, que não tem poder aquisitivo
 para ter direito a gostar do que quer que seja em termo de festa de
 formatura. Em se tratando de Brasília, oferecem das coisas mais
 “simples” como sandálias personalizadas até a imbecilidade de chegar
 de barco pelo Lago Paranoá num dos clubes do Lago Sul, bairro que tem
 o maior IDH do mundo. Não há limites para a imaginação quando não há
 limites para o cartão de crédito!
 
 Lembro que quando formei tentei organizar a festa de formatura. O
 primeiro orçamento beirava, na época, 4 salários mínimos, contendo 10
 convites. Ficamos de tentar baixar, mas a empresa ofereceu mais
 vantagens e, para minha surpresa, as pessoas concordaram com um
 orçamento de mais de 5 salários mínimos. Pulei fora! Mesmo sendo
 servidor público e podendo pagar pelo (pasmem) serviço, recusei-me a
 compactuar com aquela segregação. Não sou dos comunistas que querem
 pegar em armas e acabar com o poder burguês, nem com as empresas de
 formatura. Não quero acabar com os bailes, mas pra mim festa de
 formatura tem que ser para os formandos, indistintamente, e não
 somente para os formandos que podem pagar. O tipo de música e
 característica da ornamentação do baile também contam. Afinal:
 submissão ideológica não!
 
 Chegou dia 15 de agosto de 2008, sexta-feira, e veio a Colação de Grau
 no Centro Comunitário. Foi a primeira Colação gratuita após a
 descoberta da cobrança da máfia da Associação de Ex-alunos da UnB, na
 gestão do reitor fanfarrão Timothy. Logo após aconteceu o que alguns
 chamariam, antecipadamente, “Festa dos Excluídos”, mas que mostrou-se
 exatamente o contrário.
 
 A festa aconteceu no Cruzeiro Velho, no Círculo Operário, local
 simbolicamente marcado pela luta dos trabalhadores. Ninguém, seja
 formando ou outro qualquer, pagou para entrar. A música ficou por
 conta de som mecânico e algumas bandas, entre elas, a de Ellen Oléria,
 vencedora do Festival de Música Interna Candanga da UnB. A cerveja
 quase a preço de custo e um dos ambulantes do Por do Sol, bar que fica
 próximo à universidade, vendia churrasquinhos e pastéis. Tinha gente
 de bermuda, de chinelo, de camisa regata, de boné, do jeito que saiu
 da aula e foi prestigiar a Colação e, logo após, o baile, literal, que
 demos na festa de formatura paga. Mas tinha gente, ah como tinha! O
 Custo saiu em torno de meio salário mínimo para 7 pessoas e outros que
 foram para a festa, como eu, fizeram questão de dar uma contribuição
 maior, ainda que tudo já estivesse pago.
 
 A lembrança que tenho de minha festa de formatura é que estavam todos
 meus amigos, pois não tinha frescura de roupa de gala e só pagava o
 que consumia. A festa realmente integrou quem de fato era para
 integrar: estudantes (de calouros a veteranos), egressos de Pedagogia
 e agregados que vivem pela acolhedora Faculdade de Educação da UnB. A
 lembrança que tenho da minha festa de formatura não é a de ter que
 escolher os 10 melhores amigos, ou nem isso quando familiares entram
 na conta automática dos convites. A lembrança que tenho da minha festa
 de formatura é a de que estavam as pessoas com quem eu convivi durante
 um importante período da minha vida, e não um local estranho onde eu
 tentaria me divertir com parentes desconhecidos de amigos enquanto
 meus colegas, seja por falta de dinheiro e/ou convite, procurariam
 programa alternativo.
 
 Falando em lembrança, eu e esses amigos que optamos pela “Festa dos
 Incluídos” não temos nome em placa de mármore, ainda que sejamos mais
 lembrados dos que puderam pagar por isso. Optamos por sermos lembrados
 por nossas atitudes, pela contribuição que demos naquele espaço/tempo,
 e não empurrar nosso nome nas paredes de forma discricionária só
 porque a condição financeira nos permitiu isso. A placa também vai no
 pacote dos sonhos, e mesmo que muitas pessoas de menor renda façam um
 esforço para pagar por isso, a crítica ainda é válida. Ainda que não
 houvesse discussão do mérito do que é ter o nome em uma placa, não há
 espaço na faculdade para que todos os formandos de todas as turmas de
 uma década que seja se exponham dessa forma, ainda que a placa fosse
 uma cortesia (de mau gosto) da própria universidade, ou seja, que não
 tenha custo algum ao estudante.
 
 Diante disso, é preciso repensar o que é se formar e qual o caráter
 desse profissional. Uma pessoa que sai de uma universidade,
 principalmente pública, e a principal lembrança que tem de sua festa
 de formatura é a chuva de prata não pode ser um profissional sério.
 Como pegar na mão de um colega durante 4 ou 5 anos e no último momento
 enfrentar o abraço de despedida que separa os que podem ou não pagar
 por um serviço inesquecível, como anunciam as empresas que ganham rios
 de dinheiro com a desgraça anunciada das festas de formatura? É esse
 aspecto que precisa ser trabalhado, para que de fato a formatura seja
 uma festa, e não uma reunião de comadres.
 
 E então: qual festa de formatura você quer?

Um comentário :

  1. PUTA QUE PARIU, EU PASSEI O DIA TODO TENTANDO CONTAR PRA MINHA MÃE QUE EU NÃO QUERO QUE ELA FIQUE TODA ENDIVIDADA PRA FAZER UMA FESTA DE FORMATURA PRA MIM. PORQUE ESSA FESTA COM BANDA FAMOSA , E NO LUGAR MAIS CARO NÃO CONVÉM...EU QUERO UMA CELEBRAÇÃO ....E QUERO CHAMAR TODOS OS MEUS AMIGOS( CLARO TAMBÉM OS PARENTES QUE SÓ MEUS PAIS CONHECEM)

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quarta-feira, dezembro 22, 2010

Que festa de formatura você quer?

 Brasília, 20 de outubro de 2010.
 
 
 
 Fim de semestre na faculdade é sempre a mesma coisa: uns procurando
 estudar tudo o que não estudaram durante meses e outros correndo para
 apresentar a monografia que não trabalharam durante anos! Porém, esses
 últimos ainda tem uma preocupação a mais: organizar a festa de
 formatura. Esse parece ser o sonho dos pais, a farra dos amigos e o
 fetiche pelo produto chamado profissional, agora dotado de capital
 cultural, valorizando sua entrada (e saída) no trabalho, conhecido
 também como mercado. E se você virou mercadoria, por quê a sua festa
 de formatura haveria de ser diferente?
 
 Assim, eleva-se o ego para ver quem vai ser o orador da turma e, bem
 mais que ele, o orçamento da festa de formatura. A amizade de anos
 circunscrita em trabalhos feitos na madrugada, projetos de pesquisa,
 grupos cristãos, coletivos de diversidade, bebedeiras em churrascos,
 encontros estudantis e até confissões sobre a primeira transa ou
 cigarro de maconha dão lugar aos passos apressados, cara fechada,
 difamação de colegas ou na “melhor” das hipóteses ao sorriso
 disfarçado: pode ser um concorrente a orador!
 
 Logo depois entram em ação as fábricas de sonhos, mas que também
 organizam a sua festa. São vários os preços para todos os gostos,
 menos para o gosto das classes populares, que não tem poder aquisitivo
 para ter direito a gostar do que quer que seja em termo de festa de
 formatura. Em se tratando de Brasília, oferecem das coisas mais
 “simples” como sandálias personalizadas até a imbecilidade de chegar
 de barco pelo Lago Paranoá num dos clubes do Lago Sul, bairro que tem
 o maior IDH do mundo. Não há limites para a imaginação quando não há
 limites para o cartão de crédito!
 
 Lembro que quando formei tentei organizar a festa de formatura. O
 primeiro orçamento beirava, na época, 4 salários mínimos, contendo 10
 convites. Ficamos de tentar baixar, mas a empresa ofereceu mais
 vantagens e, para minha surpresa, as pessoas concordaram com um
 orçamento de mais de 5 salários mínimos. Pulei fora! Mesmo sendo
 servidor público e podendo pagar pelo (pasmem) serviço, recusei-me a
 compactuar com aquela segregação. Não sou dos comunistas que querem
 pegar em armas e acabar com o poder burguês, nem com as empresas de
 formatura. Não quero acabar com os bailes, mas pra mim festa de
 formatura tem que ser para os formandos, indistintamente, e não
 somente para os formandos que podem pagar. O tipo de música e
 característica da ornamentação do baile também contam. Afinal:
 submissão ideológica não!
 
 Chegou dia 15 de agosto de 2008, sexta-feira, e veio a Colação de Grau
 no Centro Comunitário. Foi a primeira Colação gratuita após a
 descoberta da cobrança da máfia da Associação de Ex-alunos da UnB, na
 gestão do reitor fanfarrão Timothy. Logo após aconteceu o que alguns
 chamariam, antecipadamente, “Festa dos Excluídos”, mas que mostrou-se
 exatamente o contrário.
 
 A festa aconteceu no Cruzeiro Velho, no Círculo Operário, local
 simbolicamente marcado pela luta dos trabalhadores. Ninguém, seja
 formando ou outro qualquer, pagou para entrar. A música ficou por
 conta de som mecânico e algumas bandas, entre elas, a de Ellen Oléria,
 vencedora do Festival de Música Interna Candanga da UnB. A cerveja
 quase a preço de custo e um dos ambulantes do Por do Sol, bar que fica
 próximo à universidade, vendia churrasquinhos e pastéis. Tinha gente
 de bermuda, de chinelo, de camisa regata, de boné, do jeito que saiu
 da aula e foi prestigiar a Colação e, logo após, o baile, literal, que
 demos na festa de formatura paga. Mas tinha gente, ah como tinha! O
 Custo saiu em torno de meio salário mínimo para 7 pessoas e outros que
 foram para a festa, como eu, fizeram questão de dar uma contribuição
 maior, ainda que tudo já estivesse pago.
 
 A lembrança que tenho de minha festa de formatura é que estavam todos
 meus amigos, pois não tinha frescura de roupa de gala e só pagava o
 que consumia. A festa realmente integrou quem de fato era para
 integrar: estudantes (de calouros a veteranos), egressos de Pedagogia
 e agregados que vivem pela acolhedora Faculdade de Educação da UnB. A
 lembrança que tenho da minha festa de formatura não é a de ter que
 escolher os 10 melhores amigos, ou nem isso quando familiares entram
 na conta automática dos convites. A lembrança que tenho da minha festa
 de formatura é a de que estavam as pessoas com quem eu convivi durante
 um importante período da minha vida, e não um local estranho onde eu
 tentaria me divertir com parentes desconhecidos de amigos enquanto
 meus colegas, seja por falta de dinheiro e/ou convite, procurariam
 programa alternativo.
 
 Falando em lembrança, eu e esses amigos que optamos pela “Festa dos
 Incluídos” não temos nome em placa de mármore, ainda que sejamos mais
 lembrados dos que puderam pagar por isso. Optamos por sermos lembrados
 por nossas atitudes, pela contribuição que demos naquele espaço/tempo,
 e não empurrar nosso nome nas paredes de forma discricionária só
 porque a condição financeira nos permitiu isso. A placa também vai no
 pacote dos sonhos, e mesmo que muitas pessoas de menor renda façam um
 esforço para pagar por isso, a crítica ainda é válida. Ainda que não
 houvesse discussão do mérito do que é ter o nome em uma placa, não há
 espaço na faculdade para que todos os formandos de todas as turmas de
 uma década que seja se exponham dessa forma, ainda que a placa fosse
 uma cortesia (de mau gosto) da própria universidade, ou seja, que não
 tenha custo algum ao estudante.
 
 Diante disso, é preciso repensar o que é se formar e qual o caráter
 desse profissional. Uma pessoa que sai de uma universidade,
 principalmente pública, e a principal lembrança que tem de sua festa
 de formatura é a chuva de prata não pode ser um profissional sério.
 Como pegar na mão de um colega durante 4 ou 5 anos e no último momento
 enfrentar o abraço de despedida que separa os que podem ou não pagar
 por um serviço inesquecível, como anunciam as empresas que ganham rios
 de dinheiro com a desgraça anunciada das festas de formatura? É esse
 aspecto que precisa ser trabalhado, para que de fato a formatura seja
 uma festa, e não uma reunião de comadres.
 
 E então: qual festa de formatura você quer?

Um comentário :

  1. PUTA QUE PARIU, EU PASSEI O DIA TODO TENTANDO CONTAR PRA MINHA MÃE QUE EU NÃO QUERO QUE ELA FIQUE TODA ENDIVIDADA PRA FAZER UMA FESTA DE FORMATURA PRA MIM. PORQUE ESSA FESTA COM BANDA FAMOSA , E NO LUGAR MAIS CARO NÃO CONVÉM...EU QUERO UMA CELEBRAÇÃO ....E QUERO CHAMAR TODOS OS MEUS AMIGOS( CLARO TAMBÉM OS PARENTES QUE SÓ MEUS PAIS CONHECEM)

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