“A propósito, desprezo tudo que meramente me instrui sem expandir ou estimular imediatamente o meu grau de atividade”. São palavras de Goethe. Com elas, bem como com uma expressão sentida de Ceterum censeo [“julgo, enfim”] deve começar o nosso exame do valor e da inutilidade da história. Pois esta obra dispõe-se a estabelecer porque, no espírito das palavras de Goethe, devemos desprezar seriamente a instrução sem vitalidade, o conhecimento que se coloca no caminho da atividade, e a história como um custoso excedente do conhecimento e como luxo – visto que nos falta o que é ainda mais essencial para nós, e que o que é supérfluo mostra-se hostil ao que é essencial.
Sem dúvida alguma precisamos da história. Mas precisamos dela de modo diverso ao do que o mimado ocioso no jardim do conhecimento a utiliza, não importando o quão elegantemente ele possa desprezar nossas vulgares e grosseiras necessidades e tribulações. Isto é, precisamos dela para a vida e para a ação, não para uma confortável afastamento da vida ou da ação ou para meramente encobrir uma vida egotista e a má conduta covarde. Desejamos usar a história na medida em que ela serve a vida. Há, porém, um modo de se fazer história e de valorizá-la pelo qual a vida se atrofia e se degenera. Trazer à luz este fenômeno como sintoma notável da nossa época é tão necessário quanto doloroso.
Friedrich Nietzsche, Do uso e do abuso da História (1878)
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