terça-feira, novembro 02, 2010

Dos porões do DOPS para a presidência.

 Dos porões do DOPS para a presidência


Rui Martins

Extraordinária revanche que, ao mesmo tempo, reforça o conceito de ser preciso lutar, mesmo quando se é minoria e parece ser perdida a causa. Qual dos carrascos e dos militares do Golpe de 64 poderia imaginar, naqueles passados fim dos anos 60, que uma das jovens recolhidas a uma das celas do Dops seria eleita, mais de 40 anos depois, presidenta do Brasil?

Diante de situações como essa, se fortalece a convição da necessidade de se lutar mesmo quando tudo parece ser contra nós e quando se é uma reduzida minoria. Graças ao meu amigo e colega Alípio Freire, imponente e carismática figura, visitei, durante minha viagem a São Paulo, dois lugares que me religaram à época da luta contra a ditadura militar – os arquivos onde estão guardados os documentos relacionados com os perseguidos, presos, torturados e mesmo assassinados no Dops, depois chamado de Deops, mas sempre um instrumento cruel da repressão. E a seguir, na praça General Osório, junto à antiga Estação da Luz, os lugares onde funcionavam parte dos mecanismos da repressão, hoje transformados no Memorial da Resistência.

Cubículos onde se acumulavam os jovens resistentes à ditadura, onde eram torturados, recebiam verdadeiras lavagens de porcos como refeições e apodreciam sem direito à luz solar, coisa permitida reduzidas vezes e apenas por restritos minutos. Coincidentemente, ali estavam no começo de outubro, data de minha visita, numerosos cinegrafistas dos diversos canais da televisão brasileira.

E por que? Para mandarem ao ar, logo após confirmada a vitória de Dilma Rousseff, documentos filmados da cela onde esteve presa, quando militante contra a ditadura militar brasileira. A vitória não saiu, como se esperava, no primeiro turno, e tudo vai ser levado à televisão brasileira neste domingo do segundo turno.

Não faltarão, sem dúvida, as informações truncadas, pelas quais ouvi um jovem me dizer, ter sido Dilma assaltante de bancos, mas tinha recebido informação incompleta, pois não lhe tinham explicado ser essa a maneira, na época, de se atacar o sistema militar e obter fundos para manter a resistência aos ditadores.

Estranho país esse meu Brasil, onde por guerrinhas políticas se procura denegrir a imagem de seus heróis do passado. Os covardes de ontem, que compuseram, colaboraram ou se aproveitaram da ditadura tentam agora minimizar o valor de todos quantos expuseram suas vidas em luta pela liberdade e pela democracia dos dias de hoje.

Dilma Rousseff não é apenas a primeira mulher brasileira eleita presidenta (e isso já é estraordinário num país tido como de machistas), é mais que isso, é uma das lutadoras naqueles escuros anos de chumbo. Anos em que, militares teleguiados pelos EUA destruíram a cultura construída nas nossas universidades, a pretexto de evitar o marxismo, mas na verdade para manter a desigualdade social e a semi-escravidão de grande parte da população, da qual só agora vamos saindo.

Dilma foi uma resistente, vinda das hostes de um outro herói, Leonel Brizola. Sua eleição é o coroamento do longo caminho das batalhas sociais em favor do povo e da liberdade, que são por uma melhor repartição do pão e por uma melhor remuneração do trabalho da maioria da população.

Depois de quase quinhentos anos de um Brasil governado sempre pelas mesmas famílias, pelas mesmas oligarquias, houve a ascensão de um filho do povo. A Casa Grande perdeu para os habitantes da Senzala e um Brasil mais justo vai surgindo, mesmo diante de numerosas tentativas para se devolver o poder aos seus antigos detentores. Oito anos, tantas vezes conturbados pelas dificuldades de se governar com um Parlamento viciado na corrupção, é um tempo curto demais para se contrapor aos quase 500 da elite branca e rica brasileira, disposta tantas vezes a vender e a ceder nossas riquezas em troca de vantagens pessoais.

Dilma Rousseff, a corajosa mulher dos anos 60, que viveu três anos nas escuras celas do Dops, por afrontar os militares – nisso sobrepujando tantos homens, dispostos por covardia a se submeter aos fardados – é hoje a garantia de um novo governo em favor do povo e não em favor dos ricos e suas oligarquias.

O Brasil é exemplo de democracia na América Latina, mostra um enorme avanço tecnológico ao ser capaz de apurar rapidamente as eleições que, nos EUA, demoram um mês em meio a trapaças de toda espécie.

A derrota de Serra sela o fim de um época. Por um bom tempo, poderemos ter a certeza da manutenção dos verdadeiros representantes do povo no poder, mesmo sob a pressão do cartel da imprensa da direita, que confunde liberdade de expressão com manipulação e engôdo do povo com seus telejornais supérfluos, suas telenovelas modificadoras da nossa cultura e com sua máquina de informação implantada por todo o país sem contrapartida, numa verdadeira ditadura latente e invisível mas eficaz.

Dilma, a resistente de ontem é a nossa presidenta de hoje, numa extraordinária revanche aos golpistas, torturadores e assassinos do passado, ainda saudosos dos anos em que enterraram aqueles anos ricos em cultura e manifestação popular. Os tempos mudaram, graças aos resistentes, o Brasil se transformou, graças aos anos Lula numa potência mundial, que Dilma, representante das mulheres brasileiras, tantas vezes oprimidas e obrigadas a ficar na cozinha, vai continuar.

fonte: Direto da Redação

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terça-feira, novembro 02, 2010

Dos porões do DOPS para a presidência.

 Dos porões do DOPS para a presidência


Rui Martins

Extraordinária revanche que, ao mesmo tempo, reforça o conceito de ser preciso lutar, mesmo quando se é minoria e parece ser perdida a causa. Qual dos carrascos e dos militares do Golpe de 64 poderia imaginar, naqueles passados fim dos anos 60, que uma das jovens recolhidas a uma das celas do Dops seria eleita, mais de 40 anos depois, presidenta do Brasil?

Diante de situações como essa, se fortalece a convição da necessidade de se lutar mesmo quando tudo parece ser contra nós e quando se é uma reduzida minoria. Graças ao meu amigo e colega Alípio Freire, imponente e carismática figura, visitei, durante minha viagem a São Paulo, dois lugares que me religaram à época da luta contra a ditadura militar – os arquivos onde estão guardados os documentos relacionados com os perseguidos, presos, torturados e mesmo assassinados no Dops, depois chamado de Deops, mas sempre um instrumento cruel da repressão. E a seguir, na praça General Osório, junto à antiga Estação da Luz, os lugares onde funcionavam parte dos mecanismos da repressão, hoje transformados no Memorial da Resistência.

Cubículos onde se acumulavam os jovens resistentes à ditadura, onde eram torturados, recebiam verdadeiras lavagens de porcos como refeições e apodreciam sem direito à luz solar, coisa permitida reduzidas vezes e apenas por restritos minutos. Coincidentemente, ali estavam no começo de outubro, data de minha visita, numerosos cinegrafistas dos diversos canais da televisão brasileira.

E por que? Para mandarem ao ar, logo após confirmada a vitória de Dilma Rousseff, documentos filmados da cela onde esteve presa, quando militante contra a ditadura militar brasileira. A vitória não saiu, como se esperava, no primeiro turno, e tudo vai ser levado à televisão brasileira neste domingo do segundo turno.

Não faltarão, sem dúvida, as informações truncadas, pelas quais ouvi um jovem me dizer, ter sido Dilma assaltante de bancos, mas tinha recebido informação incompleta, pois não lhe tinham explicado ser essa a maneira, na época, de se atacar o sistema militar e obter fundos para manter a resistência aos ditadores.

Estranho país esse meu Brasil, onde por guerrinhas políticas se procura denegrir a imagem de seus heróis do passado. Os covardes de ontem, que compuseram, colaboraram ou se aproveitaram da ditadura tentam agora minimizar o valor de todos quantos expuseram suas vidas em luta pela liberdade e pela democracia dos dias de hoje.

Dilma Rousseff não é apenas a primeira mulher brasileira eleita presidenta (e isso já é estraordinário num país tido como de machistas), é mais que isso, é uma das lutadoras naqueles escuros anos de chumbo. Anos em que, militares teleguiados pelos EUA destruíram a cultura construída nas nossas universidades, a pretexto de evitar o marxismo, mas na verdade para manter a desigualdade social e a semi-escravidão de grande parte da população, da qual só agora vamos saindo.

Dilma foi uma resistente, vinda das hostes de um outro herói, Leonel Brizola. Sua eleição é o coroamento do longo caminho das batalhas sociais em favor do povo e da liberdade, que são por uma melhor repartição do pão e por uma melhor remuneração do trabalho da maioria da população.

Depois de quase quinhentos anos de um Brasil governado sempre pelas mesmas famílias, pelas mesmas oligarquias, houve a ascensão de um filho do povo. A Casa Grande perdeu para os habitantes da Senzala e um Brasil mais justo vai surgindo, mesmo diante de numerosas tentativas para se devolver o poder aos seus antigos detentores. Oito anos, tantas vezes conturbados pelas dificuldades de se governar com um Parlamento viciado na corrupção, é um tempo curto demais para se contrapor aos quase 500 da elite branca e rica brasileira, disposta tantas vezes a vender e a ceder nossas riquezas em troca de vantagens pessoais.

Dilma Rousseff, a corajosa mulher dos anos 60, que viveu três anos nas escuras celas do Dops, por afrontar os militares – nisso sobrepujando tantos homens, dispostos por covardia a se submeter aos fardados – é hoje a garantia de um novo governo em favor do povo e não em favor dos ricos e suas oligarquias.

O Brasil é exemplo de democracia na América Latina, mostra um enorme avanço tecnológico ao ser capaz de apurar rapidamente as eleições que, nos EUA, demoram um mês em meio a trapaças de toda espécie.

A derrota de Serra sela o fim de um época. Por um bom tempo, poderemos ter a certeza da manutenção dos verdadeiros representantes do povo no poder, mesmo sob a pressão do cartel da imprensa da direita, que confunde liberdade de expressão com manipulação e engôdo do povo com seus telejornais supérfluos, suas telenovelas modificadoras da nossa cultura e com sua máquina de informação implantada por todo o país sem contrapartida, numa verdadeira ditadura latente e invisível mas eficaz.

Dilma, a resistente de ontem é a nossa presidenta de hoje, numa extraordinária revanche aos golpistas, torturadores e assassinos do passado, ainda saudosos dos anos em que enterraram aqueles anos ricos em cultura e manifestação popular. Os tempos mudaram, graças aos resistentes, o Brasil se transformou, graças aos anos Lula numa potência mundial, que Dilma, representante das mulheres brasileiras, tantas vezes oprimidas e obrigadas a ficar na cozinha, vai continuar.

fonte: Direto da Redação

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