Imaginem um homem sendo preso a um poste.
Imaginem esse homem sendo espancado.
Imaginem que ele foi preso com um cadeado de bicicleta.
Imaginem um homem nu preso a este poste.
Imaginem esse homem preso no bairro do Flamengo no Rio de Janeiro.
Imaginem a humilhação deste homem.
Imaginem um homem com a orelha cortada.
Imaginem sua dor.
Imaginem sua humilhação e seu constrangimento.
Fechem os olhos por 5 segundos, e imaginem...
Agora, imaginem esse homem, sendo uma pessoa branca e de olhos azuis...
Bem, não sou especialista, mas me senti no dever político de tentar escrever isto, é um texto que mostra mais uma visão de mundo genérica, e não terá aqui nenhum rigor teórico, pois, pra esse momento, não pretendo aprofundar isso, mas, tenho certeza, que outras pessoas o farão de maneira bem melhor aqui apresentada.
Esse caso, do jovem (negro) amarrado em um poste no Rio de Janeiro, amarrado pelos "justiceiros", mostra, mais uma vez, um forte ranço conservador, racista e colonialista existente na sociedade brasileira, principalmente em tempos de contexto de violência estrutural, que se dá tanto pela sociedade, quanto pelo "Estado penal".
Não se trata aqui, transformar isso em um debate político e/ou partidário, nem tão pouco de ser neutro, mas tentar trazer algumas reflexões importantes.
Em tempos de naturalização de barbáries como essa, vemos que a vida humana - homens/mulheres - não representam praticamente nada nessa sociedade, principalmente quando não ligado ao poder de consumo, a apresenta-se um desvio, mesmo que padrão, da aparência, da cor/etnia, entre outros.
São sim, momentos de valores invertidos nessa sociedade, mas, não como aponta a notável jornalista Rachel Sheherazade. A nossa única medida para nossas ações devria ser a vida humana. Isso, digo no sentido de dever mais profundo da palavra ética, que é no frigir dos ovos a defesa intrasigente da vida humana, e o homem como parâmetro de nossas ações, aqui, o ser humano como figura essencial nas relações social, que é dotado de consciência humana, capacidade teleológica e de se expressar através da linguagem...
Parece, que tudo isso vira o pó de cocaína que a classe média cheira quando o assunto é o direito a ter direitos. (claro que para a periferia, eles tem que ter direito de falar o que quiserem, e até prenderem e cortar a orelha de alguém, normal né?)
Tudo se naturaliza, colocam e enterram anos de evolução crítica e de capacidade cognitiva e intelectual do ser humano no lixo do MC Donalds... tudo vira um, talvez conto de fadas da bela adormecida, em que sempre foi assim, sempre será e portanto sempre deverá ser... existe uma constante moralização pautada em princípios que lhe são convenientes e de cunho preconceituoso e de julgar o outro, embora NUNCA a si próprio.
São nessas horas de que questões polêmicas entram em cena, dividem o mundo em dois lados: os que simplesmente acreditam que todos seres humanos são detentores de direitos, e assim tem direitos a ter direitos, e o outro lado, que relativiza isso conforme o poder de consumo na sociedade...
É tudo o tempo todo e o tempo inteiro, no suado cotidiano, que isso se apresenta nas abordagens, nos olhares, nos rolezinhos, e claro, cotidianamente, nas mais diversas formas de descriminação e preconceito social.
Falei acima de ética, estaria eu aqui me valendo de um termo filosófico? Bem, talvez.
A ética é uma categoria filófica, uma das mais conhecidas, porém pouco praticada, afinal, não se ensinam isso nas escolas, estamos ocupados aprendendo a raiz de delta ou como escrever corretamente conforme a norma culta da língua, sendo assim, a ética historicamente fica em segundo plano no debate.
Não seria isso o maior dos males, pois ela está ausente no debate, e o pior de tudo: na cultura!
O que vemos por ai, são homens que têm ética, homens que seguem a moral (pelo menos dizem que sim), e logo, a ética se transforma em um status individual, e esquecido no âmbito do coletivo.
Poderia ser diferente? Afinal, ouvimos o dia todo na TV, pela Igreja e cia ilimitada que a ética e a moral são as mesmas coisas, e que defender a ética, é defender interesses (os seus de preferência, e que foda-se o resto da nação, vamos cantar o hino nacional e ser feliz, né?)
O agir humano, se reduz asism, a controlar e regulamentar o comportamento conforme um padrão, bem, esse padrão, imaginem qual é... tudo que fugir disso, é logo errado e do mau, e logo deve ser punido com "justiça" e deve-se assim, esquecer da vida humana e pensar em uma só coisa: o seu lado e pensamento individual.
Desde criancinha, menina BUXUDA em Barbacena, nunca acreditei que liberdade começa quando uma termina, ou sei lá, alguma coisa do tipo, papinho clichê e de senso-comum. Ora, estaríamos assim limitando a própria liberdade, enquanto um não for livre, nenhum de nós seremos, somos interligados, porque somos seres humanos em totalidade, e logo, estamos na pior, enquanto todos tiverem na pior, só que isso é mascarado, muitas vezes, pelo poder de consumo que como mágica e um feitiç de oportunidade umas pessoas tiveram, e outram "porque não quiseram" não o tiveram.
Enfim, agumas reflexões nesse dia intenso de ofensivas a quem defende a vida humana...
Como tenho dúvidas, e ainda bem que têm os poetas e escritores, aqui no caso Racionais, que fizeram essa brilhante letra abaixo colocada. Cabe bem, como uma luva da coco chanel (essa ironia é pro pessoal que vai fazer comprar em Paris e nunca foi ao menos no complexo da maré no Rio de Janeiro).
Negro drama
Entre o sucesso e a lama
Dinheiro, problemas
Inveja, luxo, fama
Entre o sucesso e a lama
Dinheiro, problemas
Inveja, luxo, fama
Negro drama
Cabelo crespo
E a pele escura
A ferida, a chaga
À procura da cura
Cabelo crespo
E a pele escura
A ferida, a chaga
À procura da cura
Negro drama
Tenta ver
E não vê nada
A não ser uma estrela
Longe, meio ofuscada
Tenta ver
E não vê nada
A não ser uma estrela
Longe, meio ofuscada
Sente o drama
O preço, a cobrança
No amor, no ódio
A insana vingança
O preço, a cobrança
No amor, no ódio
A insana vingança
Negro drama
Eu sei quem trama
E quem tá comigo
O trauma que eu carrego
Pra não ser mais um preto fodido
Eu sei quem trama
E quem tá comigo
O trauma que eu carrego
Pra não ser mais um preto fodido
O drama da cadeia e favela
Túmulo, sangue
Sirene, choros e vela
Túmulo, sangue
Sirene, choros e vela
Passageiro do Brasil
São Paulo
Agonia que sobrevivem
Em meia às honras e covardias
Periferias, vielas e cortiços
São Paulo
Agonia que sobrevivem
Em meia às honras e covardias
Periferias, vielas e cortiços
Você deve tá pensando
O que você tem a ver com isso
Desde o início
Por ouro e prata
O que você tem a ver com isso
Desde o início
Por ouro e prata
Olha quem morre
Então veja você quem mata
Recebe o mérito, a farda
Que pratica o mal
Então veja você quem mata
Recebe o mérito, a farda
Que pratica o mal
Me ver
Pobre, preso ou morto
Já é cultural
Pobre, preso ou morto
Já é cultural
Histórias, registros
Escritos
Não é conto
Nem fábula
Lenda ou mito
Escritos
Não é conto
Nem fábula
Lenda ou mito
Não foi sempre dito
Que preto não tem vez
Então olha o castelo e não
Foi você quem fez cuzão
Que preto não tem vez
Então olha o castelo e não
Foi você quem fez cuzão
Eu sou irmão
Dos meus trutas de batalha
Eu era a carne
Agora sou a própria navalha
Dos meus trutas de batalha
Eu era a carne
Agora sou a própria navalha
Tin, tin
Um brinde pra mim
Sou exemplo de vitórias
Trajetos e glórias
Um brinde pra mim
Sou exemplo de vitórias
Trajetos e glórias
O dinheiro tira um homem da miséria
Mas não pode arrancar
De dentro dele
A favela
Mas não pode arrancar
De dentro dele
A favela
São poucos
Que entram em campo pra vencer
A alma guarda
O que a mente tenta esquecer
Que entram em campo pra vencer
A alma guarda
O que a mente tenta esquecer
Olho pra trás
Vejo a estrada que eu trilhei
Mó cota
Quem teve lado a lado
E quem só fico na bota
Entre as frases
Fases e várias etapas
Do quem é quem
Dos mano e das mina fraca
Vejo a estrada que eu trilhei
Mó cota
Quem teve lado a lado
E quem só fico na bota
Entre as frases
Fases e várias etapas
Do quem é quem
Dos mano e das mina fraca
Negro drama de estilo
Pra ser
E se for
Tem que ser
Se temer é milho
Pra ser
E se for
Tem que ser
Se temer é milho
Entre o gatilho e a tempestade
Sempre a provar
Que sou homem e não covarde
Sempre a provar
Que sou homem e não covarde
Que Deus me guarde
Pois eu sei
Que ele não é neutro
Vigia os rico
Mas ama os que vem do gueto
Pois eu sei
Que ele não é neutro
Vigia os rico
Mas ama os que vem do gueto
Eu visto preto
Por dentro e por fora
Guerreiro
Poeta entre o tempo e a memória
Por dentro e por fora
Guerreiro
Poeta entre o tempo e a memória
Hora
Nessa história
Vejo o dólar
E vários quilates
Falo pro mano
Que não morra, e também não mate
Nessa história
Vejo o dólar
E vários quilates
Falo pro mano
Que não morra, e também não mate
O tic-tac
Não espera veja o ponteiro
Essa estrada é venenosa
E cheia de morteiro
Pesadelo
Hum
Não espera veja o ponteiro
Essa estrada é venenosa
E cheia de morteiro
Pesadelo
Hum
É um elogio
Pra quem vive na guerra
A paz nunca existiu
Num clima quente
A minha gente sua frio
Vi um pretinho
Seu caderno era um fuzil
Pra quem vive na guerra
A paz nunca existiu
Num clima quente
A minha gente sua frio
Vi um pretinho
Seu caderno era um fuzil
Um fuzil
Negro drama
Negro drama
Crime, futebol, música, caraio
Eu também não consegui fugir disso aí
Eu só mais um
Forrest Gump é mato
Eu prefiro conta uma história real
Eu também não consegui fugir disso aí
Eu só mais um
Forrest Gump é mato
Eu prefiro conta uma história real
Vô conta a minha
Daria um filme
Uma negra
E uma criança nos braços
Solitária na floresta
De concreto e aço
Uma negra
E uma criança nos braços
Solitária na floresta
De concreto e aço
Veja
Olha outra vez
O rosto na multidão
A multidão é um monstro
Olha outra vez
O rosto na multidão
A multidão é um monstro
Sem rosto e coração
Ei,
São Paulo
Terra de arranha-céu
A garoa rasga a carne
É a torre de babel
São Paulo
Terra de arranha-céu
A garoa rasga a carne
É a torre de babel
Família brasileira
Dois contra o mundo
Mãe solteira
De um promissor
Vagabundo
Dois contra o mundo
Mãe solteira
De um promissor
Vagabundo
Luz
Câmera e ação
Câmera e ação
Gravando a cena vai
Um bastardo
Mais um filho pardo
Sem pai
Um bastardo
Mais um filho pardo
Sem pai
Ei,
Senhor de engenho
Eu sei
Bem quem você é
Sozinho, cê num guenta
Sozinho
Cê num entra a pé
Senhor de engenho
Eu sei
Bem quem você é
Sozinho, cê num guenta
Sozinho
Cê num entra a pé
Cê disse que era bom
E as favela ouviu, lá
Também tem
Whisky, Red Bull
Tênis Nike e fuzil
E as favela ouviu, lá
Também tem
Whisky, Red Bull
Tênis Nike e fuzil
Admito
Seus carro é bonito
É
Eu não sei fazê
Internet, videocassete
Os carro loco
Seus carro é bonito
É
Eu não sei fazê
Internet, videocassete
Os carro loco
Atrasado
Eu tô um pouco sim
Tô
Eu acho
Eu tô um pouco sim
Tô
Eu acho
Só que tem que
Seu jogo é sujo
E eu não me encaixo
Eu sô problema de montão
De carnaval a carnaval
Eu vim da selva
Sou leão
Sou demais pro seu quintal
E eu não me encaixo
Eu sô problema de montão
De carnaval a carnaval
Eu vim da selva
Sou leão
Sou demais pro seu quintal
Problema com escola
Eu tenho mil
Mil fita
Inacreditável, mas seu filho me imita
No meio de vocês
Ele é o mais esperto
Ginga e fala gíria
Gíria não, dialeto
Eu tenho mil
Mil fita
Inacreditável, mas seu filho me imita
No meio de vocês
Ele é o mais esperto
Ginga e fala gíria
Gíria não, dialeto
Esse não é mais seu
Ó,
Subiu
Entrei pelo seu rádio
Tomei
Cê nem viu
Nós é isso ou aquilo
Ó,
Subiu
Entrei pelo seu rádio
Tomei
Cê nem viu
Nós é isso ou aquilo
O quê?
Cê não dizia?
Seu filho quer ser preto
Rááá....
Que ironia
Cê não dizia?
Seu filho quer ser preto
Rááá....
Que ironia
Cola o pôster do 2Pac aí
Que tal?
Que cê diz?
Sente o negro drama
Vai
Tenta ser feliz
Que tal?
Que cê diz?
Sente o negro drama
Vai
Tenta ser feliz
Ei bacana
Quem te fez tão bom assim?
O que cê deu,
O que cê faz,
O que cê fez por mim?
Quem te fez tão bom assim?
O que cê deu,
O que cê faz,
O que cê fez por mim?
Eu recebi seu tic
Quer dizer kit
De esgoto a céu aberto
E parede madeirite
Quer dizer kit
De esgoto a céu aberto
E parede madeirite
De vergonha eu não morri
To firmão
Eis-me aqui
To firmão
Eis-me aqui
Você, não
Cê não passa
Quando o mar vermelho abrir
Cê não passa
Quando o mar vermelho abrir
Eu sou o mano
Homem duro
Do gueto, Brown
Homem duro
Do gueto, Brown
Obá
Aquele louco
Que não pode errar
Aquele que você odeia
Amar nesse instante
Pele parda
Ouço funk
Que não pode errar
Aquele que você odeia
Amar nesse instante
Pele parda
Ouço funk
E de onde vem
Os diamantes
Da lama
Os diamantes
Da lama
Valeu mãe
Negro drama
Drama, drama, drama...
Drama, drama, drama...
Aê, na época dos barracos de pau lá na Pedreira, onde vocês tavam?
O que vocês deram por mim?
O que vocês fizeram por mim?
Agora tá de olho no dinheiro que eu ganho
Agora tá de olho no carro que eu dirijo
Demorou, eu quero é mais
Eu quero até sua alma
Aí, o rap fez eu ser o que sou
O que vocês deram por mim?
O que vocês fizeram por mim?
Agora tá de olho no dinheiro que eu ganho
Agora tá de olho no carro que eu dirijo
Demorou, eu quero é mais
Eu quero até sua alma
Aí, o rap fez eu ser o que sou
Ice Blue, Edy Rock e Kl Jay e toda a família
E toda geração que faz o rap
A geração que revolucionou
A geração que vai revolucionar
Anos 90, século 21
É desse jeito
Aê, você sai do gueto, mas o gueto nunca sai de você, morou irmão?
Você tá dirigindo um carro
O mundo todo tá de olho em você, morou?
Sabe por quê?
Pela sua origem, morou irmão?
É desse jeito que você vive
É o negro drama
Eu não li, eu não assisti
Eu vivo o negro drama, eu sou o negro drama
Eu sou o fruto do negro drama
Aí dona Ana, sem palavras, a senhora é uma rainha, rainha
Mas aê, se tiver que voltar pra favela
Eu vou voltar de cabeça erguida
Porque assim é que é
Renascendo das cinzas
Firme e forte, guerreiro de fé
Vagabundo nato!
E toda geração que faz o rap
A geração que revolucionou
A geração que vai revolucionar
Anos 90, século 21
É desse jeito
Aê, você sai do gueto, mas o gueto nunca sai de você, morou irmão?
Você tá dirigindo um carro
O mundo todo tá de olho em você, morou?
Sabe por quê?
Pela sua origem, morou irmão?
É desse jeito que você vive
É o negro drama
Eu não li, eu não assisti
Eu vivo o negro drama, eu sou o negro drama
Eu sou o fruto do negro drama
Aí dona Ana, sem palavras, a senhora é uma rainha, rainha
Mas aê, se tiver que voltar pra favela
Eu vou voltar de cabeça erguida
Porque assim é que é
Renascendo das cinzas
Firme e forte, guerreiro de fé
Vagabundo nato!
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