No Brasil, Octávio Ianni afirma que se trata de um caleidoscópio de várias épocas, onde passado, presente e futuro se encontram em pura contradição, negação e afirmação.
Florestan Fernandes afirma também que certas caracterísiticas, como dependência, heteronomia, patrimonialismo, paternalismo, conformismo e mandonismo, são típicas do capitalismo à brasileira, na qual
"as impossibilidades históricas formam uma cadeia, uma espécie de círculo vicioso, que tende a repetir-se em quadros estruturais subsequentes. Como não há ruptura definitiva com o passado, a cada passo este se reapresenta na cena histórica e cobra o seu preço, embora sejam muito variáveis os artifícios da conciliação (em regra uma autêntica negação ou neutralização da “reforma‟). (FERNANDES, 2006, p. 238)
O Brasil é o retrato de encontro de várias temporalidades.
Nos termos de Octávio Ianni, o Brasil se configura como “uma formação social na qual sobressaem ritmos irregulares e espasmódicos, desencontrados e contraditórios”, como um caleidoscópio de várias épocas, e assim na modernidade, o país, apresenta-se com um “presente que se acha impregnado de vários passados”. (IANNI, 1992, p. 60-63).
Sendo assim, trata-se como marca fundante da história da formação social e econômica brasileira o desenvolvimento desigual e combinado, semelhando assim a “um caleidoscópio de muitas épocas, formas de vida e trabalho, modos de ser e pensar [...] E tudo isso está atravessado por um desenvolvimento desigual e combinado caleidoscópio, no qual a geografia e a história se mostram enlouquecidas.” (IANNI, 2004, p. 85).
Lamento que parte da esquerda brasileira não faz esse tipo de análise, e se perde e se volta e também se fecha em manuais que se voltam para a Europa. Talvez, isso reflita um pouco o déficit, a meu ver, da esquerda brasileira não conseguir dar visibilidades aos seus programas, salvo as exceções, é claro. Ficando a mercê da lógica da direita, com pautas resumidas na crítica pela crítica.
Uma vez vi um questionamento, e acho que guardadas as proporções cabe para este momento difícil de 2014. De certo, existe uma crise do sistema capitalista, e isso é inegável, se ela abala mais ou menos as estruturas e forças de produção do Brasil e países em desenvolvimento é um outro debate, mas, como afirmam alguns, se está uma tragédia (a partir de uma análise do governo e oposicianista), o que a "esquerda" teria para colocar no lugar?
Shellen Galdino
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