A secretaria nacional de política sobre drogas do Governo Federal vinha agindo há um tempinho, mas com medidas tímidas, numa tentativa de alavancar a política de redução de danos no Brasil, isso pra mim é mais visível principalmente a partir dos CAPS-AD (anti-drogas).
A nível federal, existia ao longo do tempo a tentativa de construir um agenda nacional para tentar resolver esse problema, também do ponto de vista da segurança pública. Acredito que, por existir ainda uma forte militarização da vida social e até mesmo por falta de prioridade no assunto dos estados e municípios isso não ganhou corpo.
Confesso que fiquei surpresa com a atitude do governo municipal de São Paulo. Já tinha ouvido antes que o Haddad condenava as práticas de repressão policial e do higienismo social promovido pela internação compulsória, mas ele falava isso de maneira muito “medida” para tentar não gerar polêmica, e culpava a ação por causar estranhamento entre as eferas do poder. O fato da secretária, Luciana Temer, não ser também lá essas coisas, pode ter surpreendido mais.
Acontece que o fato das drogas, e mais precisamente da cracolândia, é um calo há muito tempo para o governo e a sociedade paulistana, então buscar resolver isso cedo ou mais tarde ia ter que entrar na agenda da gestão.
Politicamente, o governo do Haddad em São Paulo não estava “bem visto” lá, quando fui lá em outubro, mesmo após as manifestações, exisita uma grande incerteza sobre os rumos do governo e sobre a candidatua a governadoria em São Paulo, via Padilha. No tocante ao andamento da gestão municipal, isso é até compreensível, afinal, o governo anterior do PSDB também estava mal, e não teríamos como mudar a correlação de forças de uma hora para a outra, principalmente com problemas na composição do governo.
A meu ver hoje, as gestões do PT em São Paulo, e no Rio Grande do Sul representam o fôlego do PT nos governos municipais e estaduais, fora isso, estamos desgastados, exemplo disso é nossa situação no nordeste, principalmente na Bahia.
Especificando sobre para a execução da política na cracolândia... O fato é que temos um problema, o uso indevido de drogas e a condição desses territórios e sua vulnerabilidade social...
Quando tentou-se fazer isso via internação compulsória e ainda com repressão policial o óbvio veio a tona: se tratava de mais uma atitude higienista e pontual, que não ia na essência, e portanto, não resolveria, seria uma “política” para “inglês ver”. Era uma atitude mais fácil, a da imposição... gerou bastante polêmica e diversos grupos dos direitos humanos e da saúde mental foram terminantemente contra, inclusive os órgãos de categorias de classe.
Com essa atitude da operação Braços Abertos, mostra-se e percebe-se que é bem ousada e diferente, busca-se o diálogo com aqueles que segundo muitos, são imprestáveis e “vagabundos” para a cidade. E também, tenta-se construir a política de uma forma mais transversal, eu diria, é uma mediação de um conflito existente.
Agora, esse “conflito” se dá tanto de maneira entre sujeitos, mas também de maneira psíquica, pois sabemos dos danos que uma droga pesada com o crack pode causar. Sendo assim, é preciso de uma olhar também clínico.
Acredito que o diferencial será se o trabalho permanecer o tempo todo de maneira intersetorial, e acho que isso já começou bem, pelo que percebi de longe.
É preciso acompanhamento de equipe multidisciplinar e acionar a rede de serviços existentes, principalmente do SUS e SUAS, mais precisamente entre os CRAS, CREAS e CAPS, e também as USF.
Não sei como está a situação mais específica sobre a política nacional anti-drogas em São Paulo, mas é necesessário articular isso com a participação da comunidade, seja via a criação de um conselho municipal sobre drogas, assim como de conselhos locais, e de inserir e fortalecer tais discussões através da educação e da saúde, e claro, em diálogo com os movimentos sociais e ONGs que já atuam na área.
Agora, se isso também não buscar uma mediação com os meios de comunicação e com a nossa base de apoio, para a formação da opinião pública, pode ser um tiro pela culatra caso dê "algum problema".
Outro ponto que devemos problematizar é, que essa ação deve avançar no sentido de se tornar um programa, e quem se sabe se materialize em uma política municipal de combate a drogas, garantindo assim a sua institucionalização e assim provável garantia.
Se ficar somentes nessas ações atuais por muito tempo, é provável que se esgotará rapidamente na minha avaliação. É preciso inserir para esses sujeitos uma forma mais planejada da política de emprego e renda, seja via economia solidária, ou mesmo, nos serviços públicos, como já acontece em alguns caos de adolescentes em cumprimento de medidas sócio-educativas...
Enfim, temos que apostar, é preciso uma saída concreta...
Isso também deve, sem purismo, vir acompanhado de um combate ao tráfico, ai, não sei até que ponto o município tem governabilidade para tal... Mas, acho que terá que pedir apoio ao governo federal em todos os sentidos, principalmente no repasse de orçamento e de construção de uma política em caráter permanente, e que seja referência nacional, já que os municípios estão sem ter o que fazer diante disso, na minha realidade mesmo, não vejo nenhuma ação do tipo, salvo os consultórios de rua (saúde) e alguns programas governamentais como o Ruartes (assistência social), que são de pequeno impacto mediante a formação das equipes e do financiamento.
Enfim, acho que para início do debate são essas reflexões. Sobre a logística de como será esse controle do trabalho de zeladoria, e do funcionamento do hotel não tenho informações mais precisas, e nenhuma fonte desses jornais são confiáveis... Vou tentar assim que possível entrar em contato com um colega meu que é Assistente Social da área lá.
Vale ressaltar que o conservadorismo paulistano está com ódio e raivoso, falando que estatizamos o tráfico via o "bolsa crack".
Achei esse vídeo interessante: http://tvt.org.br/watch.php?id=15508
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