Tento me colocar no lugar do leitor que comenta os textos publicados no blog e fica sem resposta. Imagino que deve ser decepcionante. Peço desculpas ao leitor, mas também a compreensão. Outro dia, o meu amigo Walterego me chamava a atenção para este aspecto e insinuou que é desrespeitoso. Tentei justificar e notei que sempre leio todos os comentários. Sou grato aos que tomam o seu precioso tempo para ler e comentar, que contribuem para a minha reflexão. O Walterego irritou-se quando frisei que polêmicas são inúteis! Então, polemizou-se a polêmica. Calei e deixei-o falar. Não queria atiçar o fogo, mas isto pareceu ainda mais irritante ao meu amigo. Não obstante, a amizade prevaleceu! Amigos não se deixam abalar por discussões, por mais acirradas que sejam!
Fiquei a pensar sobre os argumentos do Walterego. A relação com o outro pressupõe respeito, diálogo e atitude ética, aspectos nem sempre observados na polêmica. Esta nega o diálogo, pois se trata de quem tem razão. No fundo, é uma questão de força, de fazer valer a “sua verdade”, a “sua opinião”, não importa quais os procedimentos. Portanto, concordo com Foucault que:
“No jogo sério das perguntas e respostas, no trabalho de elucidação recíproco, os direitos de cada um são de qualquer forma imanentes à discussão. Eles decorrem apenas da situação de diálogo. Aquele que questiona nada mais faz do que usar um direito que lhe é dado: não ter certeza, perceber uma contradição, ter necessidade de uma informação suplementar, defender diferentes postulados, apontar um erro de raciocínio. Quanto àquele que responde, ele tampouco dispõe de um direito a mais em relação à própria discussão: ele está ligado, pela lógica do seu próprio discurso, ao que disse previamente e, pela aceitação do diálogo, ao questionamento do outro” (225). *
A polêmica tende a suplantar o diálogo:
“O polemista prossegue investido dos privilégios que detém antecipadamente, e que nunca aceita recolocar em questão. Possui por princípio, os direitos que o autorizam à guerra e que fazem dessa luta um empreendimento justo; não tem diante dele um parceiro na busca da verdade, mas um adversário, um inimigo que está enganado, que é perigoso e cuja própria existência constitui uma ameaça. O jogo para ele não consiste, portanto, em reconhecê-lo como sujeito com direito à palavra, mas em anulá-lo como interlocutor de qualquer diálogo possível, e seu objetivo final não será se aproximar tanto quanto possível de uma difícil verdade, mas fazer triunfar a justa causa da qual ele é, desde o início, o portador manifesto. O polemista se sustenta em uma legitimidade da qual seu adversário, por definição, está excluído” (225-226).
A polêmica é uma “figura parasitária da discussão e obstáculo à busca da verdade”. Ela “define alianças, recruta partidários, produz a coalizão de interesses ou opiniões, representa um partido; faz do outro um inimigo portador de interesses opostos contra o qual é preciso lutar até o momento em que, vencido, ele nada mais terá a fazer senão se submeter ou desaparecer” (226).
Se o tema é polêmico, o melhor é simplesmente respeitar o que o outro pensa! É ingênuo supor que o polemista está disposto a abrir mão das certezas absolutas e dialogar. Muito pelo contrário, o objetivo é destruir o argumento do outro – no contexto ditatorial objetiva-se anular a liberdade de expressão e/ou eliminar fisicamente o outro.
Não escrevo para fazer cabeça ou converter. Não quero impor a verdade, nem conquistar seguidores. Estou aberto a dialogar e aprender. O melhor critério da verdade ainda é a prática. Na medida em que a polêmica delimita trincheiras instransponíveis e anula o diálogo, não vale a pena polemizar!
* As referências são de “POLÊMICA, POLÍTICA E PROBLEMATIZAÇÕES (1984)”, in FOUCAULT, Michel. Ética, Sexualidade, Política. Organização e seleção de textos, Manoel Barros da Mota. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006. (Ditos e escritos; V). O número entre parênteses indica a página.
Não acho que o "polemista" defende uma verdade absoluta... mas mesmo assim gostei do texto...
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