Revolução 2.0 |
O movimento 15M tem ocupado diversas praças da Espanha, como esta na cidade de Vitoria-Gasteiz. Para Raul Sanchez, da Universidade Nômade de Madri, este é o momento mais importante da democracia do país. (foto: Roberto Hextall/ Flickr – CC BY-NC-ND 2.0)
Revoltas estouram em diversas partes do globo. Real e virtual compartilham fronteiras cada vez menos nítidas. Governos tentam controlar a internet. Essas são algumas das características de um mundo em transição, desencadeadas pela crise financeira que assombra populações desde o fim da década passada.
Interpretar esses acontecimentos e suas consequências é tarefa complicada diante da velocidade com que novas questões são colocadas. Essa foi uma das constatações compartilhadas pelos participantes do 3º Seminário Internacional Capitalismo Cognitivo, realizado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro.
Para os palestrantes, as redes sociais estão demonstrando necessidade de uma democracia mais participativa
Nos três dias de evento (24-26/8), que nesta edição tratou de “Revolução 2.0: da crise do capitalismo global à constituição do comum”, professores universitários, advogados e ativistas de Brasil, Espanha, Itália e França discutiram os novos caminhos e velhos problemas na busca de uma sociedade mais justa.
Capitalismo cognitivo seria uma espécie de ‘terceira via’ desse modelo econômico, marcado por aspectos intelectuais e imateriais que o diferenciam das vertentes anteriores (mercantil e industrial). Para muitos dos palestrantes, são justamente os valores subjetivos de populações que estão sobressaindo nas redes sociais, demonstrando a necessidade de uma democracia mais participativa.
Abelhas, formigas e nós
“Abelhas e formigas não debatem, mas se organizam e seguem estímulos sensitivos; faço esse paralelo com o que acontece conosco no mundo virtual”, observou Raul Sanchez, integrante da Universidade Nômade de Madri e do movimento 15M , que tem agitado diversas cidades espanholas em respostas às medidas de austeridade do governo.
“Estamos vivendo o movimento mais importante da nossa democracia. No começo, éramos 100 pessoas na Praça do Sol e a polícia resolveu intervir. No dia seguinte, praças de todo o país estavam ocupadas. Foi um movimento consciente? Não. Foi um grito coletivo. As pessoas continuam lá e não param de falar.”
Sal da Praça Tahrir, Sol da praça espanhola e sul da América Latina devem trazer as melhores propostas para o futuro
Para o professor Giuseppe Cocco, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), há diferentes visões da crise: os neoliberais a atribuem a resíduos do wellfare state, enquanto os Brics – grupo formado pelos emergentes Brasil, Rússia, Índia e China – criticam o excesso de ganância dos mais ricos.
“As melhores propostas devem sair do trabalho coletivo do sal da Praça Tahrir, no Egito, do Sol da praça espanhola e do sul da América Latina”, disse o acadêmico, referindo-se às manifestações populares que marcaram os últimos meses na Europa e no norte da África e à esperança de novos rumos na democracia do nosso continente.
“Eu queria mudar o mundo. Mas não tive acesso ao código”
As manifestações pacíficas na Espanha também foram mencionadas por Ivana Bentes, diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, em apresentação recheada de exemplos de ciberativismo e de frases de efeito como a do subtítulo acima, de autor anônimo.
Ativistas preparam cartazes para a Marcha da Liberdade em São Paulo. Manifestações de movimentos sociais foram organizadas em várias cidades do Brasil, mas ficaram restritas à participação da classe média. (foto: Rafael Rolim/ Flickr – CC BY-SA 2.0)
“Não conseguia me desconectar da transmissão ao vivo da Praça do Sol feita pelos próprios manifestantes na internet. Uma informação audiovisual totalmente diferente das imagens que nos chegavam da tragédia do 11 de setembro pelas grandes corporações de TV dez anos atrás”, comparou.
Um dos momentos mais agitados do debate foi motivado pela fala de Bentes sobre as marchas organizadas por movimentos sociais brasileiros neste ano. Diversas pessoas da plateia pediram a palavra para observar que são movimentos de classe média, com pouca participação das periferias. “A separação entre ricos e pobres no Brasil é tão notável que até nesses movimentos ela aparece”, observou um participante.
Produção compartilhada de conhecimento e crise de governança também deram o tom dos outros dias de debate. No último dia (26/8), Sergio Amadeu, da Universidade Federal do ABC, exaltou o ativismo hacker, que busca a transparência de dados dos governos, e Vinicius Wu, do governo do Rio Grande do Sul, fez apresentação complementar mostrando os objetivos do Gabinete Digital, iniciativa que tenta aproximar o governador Tarso Genro da população por meio da internet.
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Helena Aragão - Ciência Hoje On-line
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