quinta-feira, setembro 20, 2012


Eu sei que eu posso muitas coisas sem você, e eu sei que, se eu tomar um banho quente e comprar uma roupa nova, talvez eu possa querer uma coisa que seja, só uma, sem você. Nada muda no mundo quando você não caminha ao meu lado, as pessoas quase não percebem que falta metade do meu corpo e que eu não posso ser muito simpática porque toda a minha energia está concentrada para eu não tombar.




Você me trouxe até aqui pessoa em carne em viva, exposta, maluca, ridícula, errada, neurótica, obsessiva, sempre entregue numa bandeja de ouro para os raros pensamentos elaborados e carinhos honestos do mundo, ainda que muitos desses meramente teatrais..., mas depois de 10 anos de terapia e muito cansaço do riso alheio eu preciso deixar você ir embora e virar uma daquelas adultas que saem pela rua
com pele calejada e não com o fígado à mostra. Que difícil. Estou na fase mais difícil da minha vida. Não sei não ser uma idiota e amo a idiota ainda mais do que toda a dor que ela me causa. Mas não dá mais pra sentir a vida com cinco anos de idade. E esperar que o mundo tenha carinho com isso como se o mundo não estivesse ocupado com seus cinco anos de idade também. É lindo ser idiota. É a única coisa que me levanta da cama de manhã. Mas já machuca há mais de trinta anos e simplesmente não dá mais. Tudo começou a dar defeito e a me pedir proteção. Eu escuto meus órgãos e meu cérebro e meu coração me pedindo "chega". Preciso deixar você ir...mas até pra deixar você ir, me exponho ao ridículo novamente. Como é difícil.

Tati Bernardi

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quinta-feira, setembro 20, 2012


Eu sei que eu posso muitas coisas sem você, e eu sei que, se eu tomar um banho quente e comprar uma roupa nova, talvez eu possa querer uma coisa que seja, só uma, sem você. Nada muda no mundo quando você não caminha ao meu lado, as pessoas quase não percebem que falta metade do meu corpo e que eu não posso ser muito simpática porque toda a minha energia está concentrada para eu não tombar.




Você me trouxe até aqui pessoa em carne em viva, exposta, maluca, ridícula, errada, neurótica, obsessiva, sempre entregue numa bandeja de ouro para os raros pensamentos elaborados e carinhos honestos do mundo, ainda que muitos desses meramente teatrais..., mas depois de 10 anos de terapia e muito cansaço do riso alheio eu preciso deixar você ir embora e virar uma daquelas adultas que saem pela rua
com pele calejada e não com o fígado à mostra. Que difícil. Estou na fase mais difícil da minha vida. Não sei não ser uma idiota e amo a idiota ainda mais do que toda a dor que ela me causa. Mas não dá mais pra sentir a vida com cinco anos de idade. E esperar que o mundo tenha carinho com isso como se o mundo não estivesse ocupado com seus cinco anos de idade também. É lindo ser idiota. É a única coisa que me levanta da cama de manhã. Mas já machuca há mais de trinta anos e simplesmente não dá mais. Tudo começou a dar defeito e a me pedir proteção. Eu escuto meus órgãos e meu cérebro e meu coração me pedindo "chega". Preciso deixar você ir...mas até pra deixar você ir, me exponho ao ridículo novamente. Como é difícil.

Tati Bernardi

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