Estranho um comunista falar desse tema, afinal a imagem que temos
dessas pessoas que defendem uma sociedade tão difícil de ser alcançada se
resume a todo aquele estereótipo russo soviético que temos em nossas
mentes. Mas isso é um engano. Ao navegar no sítio da Juventude Comunista
Cubana (http://www.juventudrebelde.cu/ - fantástico, por sinal), vi um texto
sobre um feriado naquele país e falava que os jovens saíam de suas casas
para encontrarem uma possível cara metade
(http://www.juventudrebelde.cu/suplementos/sexo-sentido/2010-04-23/paraamores-
colores/). Logo pensei: se a União da Juventude Comunista – UJC –
quer dialogar com os jovens brasileiros, por que não escrever também um
artigo sobre o tema?
Com o aprofundamento do capitalismo na economia mundial, o nosso
calendário e cultura tiveram grandes mudanças: a questão religiosa do
natal dá lugar a um dialético movimento de pessoas que têm capital para
gastar e, de fato, lotam as lojas, shopping´s, supermercados ou
hipermercados, etc. e de outro lado um exército de trabalhadores que
gostariam de passar essa data com a família, mas são mega – explorados
por causa da carga excessiva de trabalho. Temos o dia das mães, o dia dos
pais, dia das crianças, aniversários, carnaval, dentre outras, que servem,
além de celebrarem algo com alguma intensidade, são também os motores
para deixar a chama do lucro do comércio acesa todo o ano. E o dia dos
namorados entra nesse contexto, infelizmente.
Em primeiro lugar, não sou contra datas comemorativas, elas fazem
parte da cultura de um povo, de uma nação. Os comunistas do mundo todo
comemoram a vitória heróica do povo soviético contra o nazi – facismo,
entre outros milhares de exemplos. O capitalismo, através de sua tática que
usa massivamente todos os meios de comunicação possíveis, conseguiu
quebrar uma lógica que há uns 50 anos atrás tínhamos nas cidades grandes
e que ainda prevalecem em algumas cidades do interior (embora, isso seja
muito raro), o de manter as pessoas se encontrando, sejam em festas, para
conversarem sobre alguma coisa durante horas, organizarem algo em
conjunto (existiam até associações de bairro!). Era importante olhar nos
olhos das pessoas, compartilharem suas dificuldades, suas alegrias. Logo, o
coletivo prevalecia sobre o individual. Notem, não que isso acabou, não sou
extremista, mas é muito raro ver hoje um cenário tão favorável ao encontro
de pessoas.
Os desenvolvimentos da tecnologia e das ciências a serviço do capital
têm imperado outro modo de vida: submissão à ordem da coisificação do
ser humano. Ou seja, devemos mais nos preocupar em produzir, em gastar
todo o tempo de nossa vida para atender as exigências da burguesia e,
fazemos isso muito bem, conscientemente ou não. Trabalhar muito, não
conversar com os colegas de trabalho sobre outras coisas alheias ao ofício,
estudar bastante, de dia, de noite. E nem ousem em ir para alguma festinha
no sábado - tem trabalho de faculdade para entregar na próxima semana! E
claro, devemos inventar um tempo para ir à academia e moldar nossos
músculos como a mídia exige, para atender aos padrões “normais” de
beleza e estarmos dispostos ao serviço no dia seguinte.
Qual o resultado do estilo de vida supracitado (e quem falar que não
sabe do estou falando, que atire a primeira pedra!)? É o esvaziamento de
lugares ou momentos os quais as pessoas se encontram e até facilitam que
algo mais avançado seja feito (na linguagem informal – encontrar uma cara
metade). As empresas capitalistas agradecem, a burguesia fala que o povo
brasileiro é muito submisso, estamos contentes porque o que a grande
mídia, endeusada em um monitor de TV ou qualquer canal de transmissão
de suas bizarrices, que impera o que devemos ser e cumprimos cabalmente
tal imposição.
Agora vem o dia 12 de junho que no Brasil é o dia dos namorados, data
que é variável de país a país, cultura a cultura. Existe uma alguma coisa no
ar que diz o seguinte: não devemos nos esquecer de comprar os presentes!
Na psicologia, está provado que o primeiro momento do encontro de um
casal se dá através de questões objetivas, como a aparência, os sinais
corporais (olhar, sorriso, etc.), porém, com o passar do tempo a relação
amadurece (pelo menos se espera) e outros valores são colocados de modo
a consubstanciar um relacionamento mais longo e duradouro, como o jeito
de ser, os sonhos, o estilo de vida, etc. Não que dar presentes seja algo
inerente ao sistema capitalista ou a ótica burguesa, dar coisas bonitas a
quem nós amamos é algo normal e vem sendo legado culturalmente desde
os nossos ancestrais mais remotos, mas o que questiono sobre o dia 12 é o
seguinte: tirando o pouco que o proletariado tem de seus ganhos, a data
existe só para movimentar a economia e o comércio? Então, o que devemos
comemorar? Um namoro heroicamente construído na conjuntura social
descrita? Isso é louvável, mas não creio ser esse o objetivo central.
Vamos supor um(a) jovem, independente da sua posição sexual que
queira sair no sábado do dia 12 para encontrar alguém. Em Minas Gerais
não existem praias, mas o que importa, quem vai à praia nesse inverno?
Então vamos ao shopping! Mas lá é um lugar o qual as pessoas vão para
comprar alguma coisa, na maioria das vezes, de maneira impulsiva (não
planejada), elas não têm tempo para conversar. Vamos para uma boate!
Sim, mas lá não é um lugar para um casal se conhecer melhor,
compartilhando seus sentimentos. E um show? Mesma conjuntura. E uma
festa na casa de um parente? Só vão familiares. Um bar! Ninguém vai a um
bar para ficar “bom”, mas para ficar “ruins” (quem ler que entenda!). É
possível fazer dezenas e dezenas de exemplos, mas provavelmente
chegaremos a um mesmo resultado: faltam espaços de convivência para
que as pessoas possam se conhecer melhor. Esse é o grande desastre do
dia dos namorados desse ano (e nos anos antecessores e posteriores).
O que me consola é o fato que em uma sociedade socialista, os valores
do povo são outros, a lógica burguesa sobre a vida vira cinzas. Dá até uma
certa inveja, no calor caribenho, os camaradas da Juventude Comunista
Cubana e os jovens daquele país se deleitarem de amores na tão
aconchegante, sensual e romântica Havana. Mas lembrando que temos
pouco tempo para essas coisas, voltemos à árdua tarefa militante de lutar
por uma sociedade mais justa, igualitária, a qual os seres humanos sejam o
foco de todo o trabalho gerado pela nação. E lá se vai mais um dia dos
namorados e a continuação da subestimação das relações humanas, ao
contrário da sua subjetividade.
*Texto do camarada Alex Roberto Corrêa – Secretário de Movimento Estudantil da
União da Juventude Comunista de Minas Gerais.
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